Festivais - A INSPIRAÇÃO QUE VEM DE SHAKESPEARE
     
 

PUBLICADA EM 15.10.16

Carlos Augusto Brandão

O diretor Matías Piñeiro tem parte de sua filmografia dedicada a ambientar histórias de Shakespeare.

Trazendo-as para os dias de hoje, com as crises e turbulências do mundo moderno, esse foi o caso de  “Rosalinda” (2011),  “Viola” (2012)  e “A Princesa de France”.
 
Piñeiro está de volta ao tema com “Hermia e Helena”, seu novo trabalho, que integra a programação da 18ª edição do Festival do Rio.
 
A história segue Camila (Munoz),  uma jovem diretora teatral, que viaja para Nova York para trabalhar na tradução de Sonho de uma Noite de Verão de William Shakespeare. Seu namorado e amigos ficaram em Buenos Aires, o que leva Camila a repensar velhos e novos relacionamentos.  Filmado entre as duas cidades, o filme é realizado em capítulos que foca nas diferentes vidas e experiências de Camila, bem como nas diferentes pessoas que ela encontra durante sua jornada.
 
A narrativa é dividida – no passado e no presente, em casa e fora – levando os espectadores a rever imagens ora de Buenos Aires, ora de Nova York, como a Ponte de Williamsburg por exemplo.  
 
Tendo mudado de sua casa em Buenos Aires para um apartamento em Nova York, Piñeiro pode ter feito um filme com viés autobiográfico.
 
Dessa forma, explica a motivação para investir novamente no universo de Shakespeare, desta vez filmando entre Nova York e Buenos Aires.
 
“Queria fazer uma adaptação de William Shakespeare, desta vez não para o lado teatral, mas sim de sua própria palavra, ou seja, de seu texto”, diz reiterando porque decidiu filmar nos EUA.
 
“Depois de quatro anos em Nova York, surgiu uma espécie de afinidade, formei um contexto na cidade e tudo começou a ser menos estranho para mim. Obviamente serei sempre um estrangeiro, mas eu achei cúmplices na cidade e me senti confortável”, diz Piñeiro, conhecido por formar uma equipe para trabalhar sempre com o mesmo grupo de atores.
 
“É um grupo muito rico e que ainda não esgotou todas as possibilidades que cada um de nós tem.  Também são pessoas que gostam do que fazem, são muito sensíveis, inteligentes e há sempre algum tipo de interação entre eles, o que me incentiva”, afirma detalhando seu processo criativo todas as vezes que começa um novo projeto.
 
“O projeto começa com a seleção do trabalho.  Eu fiz uma espécie de pastiche dessas obras de Shakespeare com trechos de cada um dos seus livros. No caso deste filme foi com Sonhos de uma Noite de Verão. O texto é como uma pequena semente, um ponto de partida que atua como um incentivo para vermos o que pode ser feito com isso nos filmes. Analisamos para encontrar alguns novos caminhos, alguns pontos narrativos.  Estou interessado na narração e também em encontrar formas alternativas de narrar”, ressalta o diretor, antecipando seu próximo projeto.
 
“Ariel em “A Tempestade” (Ariel é um espírito do ar na obra A Tempestade, de Shakespeare), que vou co dirigir com Lois Patiño, um diretor de cinema que admiro muito”, destaca.