Festivais - CRISE HUMANISTA COMO PANO DE FUNDO
     
 

PUBLICADA EM 23.05.17

Carlos Augusto Brandão

“Happy End”, do austríaco Michel Haneke, foi apresentado ontem na competitiva oficial da 70ª edição do Festival de Cannes.

O novo filme do cineasta alemão – ganhador de duas Palmas de Ouro (“A Fita Branca”, 2009 e “Amor”, 2012) –  se passa em Calais, no norte da França, em torno de uma família de classe média alta.  Em Calais, até outubro passado, havia um dos maiores campos de refugiados do país, quando começou a ser esvaziado pelo governo.
 
A figura central é Anne Laurent (Isabelle Huppert, em seu quarto filme com o diretor), que administra a construtora do pai (Jean-Louis Trintignant), viúvo octogenário que tenta preparar o filho (Franz Rogowski) para assumir os negócios da família.
 
Seu irmão mais novo (Mathieu Kassovitz) é um cirurgião em seu segundo casamento que mantém um caso com uma musicista e é descoberto pela filha adolescente, fruto de uma união anterior.
 
A questão humanitária e a crise de imigração são sugeridas e se infiltram pelas frestas do filme  através dos serviçais da mansão ou nos imigrantes que perambulam pelas ruas.
 
Haneke diz que essa é uma história universal que poderia acontecer em qualquer lugar do mundo.
 
“Não é sobre a situação em Calais especificamente.  O que o ambiente do filme pode fornecer é a ideia do quanto nos tornamos alheios completamente à realidade à nossa volta”, ressalta.
 
Haneke usou pela primeira vez imagens de celular, chats on-line, e-mails, aplicativos e redes sociais para construir um universo audiovisual contemporâneo.
 
Mas para ele, há certa amargura no tipo de vida que estamos levando hoje.
 
”É difícil falar dos tempos atuais sem abordar o quão as pessoas estão cegas para certos temas.  Temos a impressão de que estamos mais bem informados, mas na verdade não sabemos nada.  Só sabemos o que experimentamos com a prática”, afirma o diretor de 75 anos. 
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