Festivais - O CINEMA AUTORAL DE EDUARDO NUNES NA BERLINALE
     
 

PUBLICADA EM 20.02.18

Myrna Silveira Brandão

“Unicórnio”, de Eduardo Nunes, teve sua première internacional na 68ª edição do Festival de Berlim.

Nunes – um dos nomes mais marcantes do novo cinema autoral brasileiro – apresentou seu segundo longa-metragem  na Mostra Generation, seção do evento destinada aos jovens.  

O filme,  que  tinha tido estreia nacional em outubro último no Festival do Rio, é adaptado da obra da escritora Hilda Hilst e foi filmado na Região Serrana do Estado do Rio de Janeiro com a mesma equipe técnica de “Sudoeste”, seu primeiro longa.

A trama de “Unicórnio”, segue Maria – vivida por Barbara Luz – que está aguardando  com a mãe (Patrícia Pilar), a volta de seu pai (Zécarlos Machado).  A relação entre as duas sofre uma mudança com a chegada, à rústica casa de campo onde moram, de outro homem (Lee Taylor). 

Nunes, nascido em Niterói (RJ),  tem tido uma presença frequente em festivais fora do Brasil. “Sudoeste”  recebeu 23 prêmios internacionais e foi exibido em mais de 30 países.
 
“Unicórnio”  concorre ao Urso de Cristal e será escolhido por um júri também constituído por jovens.  
 
Nesta entrevista, concedida ao Mccinema, Nunes falou sobre o significado da seleção para a Berlinale.  
“O primeiro filme de longa-metragem que realizei (Sudoeste) estreou na competição do Festival de Roterdã e isso deu ao filme uma carreira muito bonita em todo o mundo.  Para mim, exibir o filme em Berlim é a possibilidade de dar continuidade a um trabalho autoral que eu acredito. De certa forma, “Unicórnio” é um desdobramento de “Sudoeste”, e ser selecionado para um dos festivais mais importantes do mundo, é uma palavra de encorajamento para que eu continue com o meu trabalho”, disse o diretor acrescentando que isso vai ajudar muito na carreira do filme.   
 
“Para o filme, o festival também será muito importante.  Já conseguimos fechar com um comprador internacional, que está muito animado com a seleção e penso que Berlim vai abrir muitas portas para a exibição do “Unicórnio”. Quando investimos e acreditamos num cinema autoral, os festivais de cinema tornam-se uma ferramenta importantíssima para trabalhar o filme”.
 
Nunes acha que o fato de trazer uma história que poderia acontecer em qualquer lugar do mundo abre caminhos para exibição em muitos países.
 
“Acredito que, por ter uma estrutura fabular, o filme acaba tratando de valores universais: o amor, a conflituosa relação entre mãe e filha, a solidão, a morte... E isso facilita a comunicação entre diferentes culturas”, explicou Nunes destacando a personagem de Maria.  
 
“Talvez um ponto do “Unicórnio” que ajude muito nessa comunicação é a personagem dessa menina que possui sentimentos muito complexos e está o tempo todo tentando entender o mundo e os seus valores. E acho que, no filme, conseguimos deixar estes sentimentos expostos, mas não explicados.  Desta forma, cada espectador pode complementar, com as suas próprias experiências, a personalidade de Maria”.
 
O diretor acha difícil prever a reação do público, mas disse que ficou muito feliz com a seleção para a Generation, pois nela está boa parte do público (e realizadores) do futuro. 
 
“Poder me comunicar com estes jovens é como falar ao futuro. Estamos num momento muito difícil no Brasil e também em todo o mundo, com muito preconceito, medo e violência.  É preciso acreditar nestes jovens, e acho que eles não vão decepcionar”, afirmou o diretor expondo como é realizar um cinema autoral como o dele nos dias de hoje.
 
“Nos últimos anos, por uma facilidade aos meios de produção de um filme (como o equipamento digital) a produção em cinema cresceu muito. Qualquer festival hoje recebe milhares de inscrições do mundo inteiro.  E, no Brasil, este crescimento veio acompanhado de uma produção autoral de muita qualidade.  A questão hoje não é só fazer um filme, é conseguir um destaque para ele no meio de uma produção tão grande e de tanta qualidade”.