Festivais - ESTRELAS SOB O CÉU DE BERLIM
     
 

PUBLICADA EM 06.02.14

Carlos Augusto Brandão

Logo mais à noite, os olhos do Cinema Mundial se voltam para o Festival de Berlim, que está completando sua 64a edição e vai até o dia 16.

The Grand Budapest Hotel, de Wes Anderson, dá partida à Berlinale,  que vai mostrar uma eclética programação de mais de 300 títulos.
 
Anderson retorna ao festival, onde concorreu ao Urso de Ouro em 2002 com Os Excêntricos Tenembauns e em 2005 com A Vida Marinha com Steve Zissou.
 
O novo filme do talentoso diretor americano segue as aventuras de Gustave H,  lendário concierge de um famoso hotel europeu no período entre as guerras, e Zero Moustafa, o office boy que se torna o seu amigo mais confiável. 
 
A história envolve ainda o roubo de uma pintura renascentista e a batalha por uma enorme fortuna familiar, tudo isso tendo por pano de fundo as dramáticas mudanças que estavam ocorrendo no continente europeu.
 
O elenco estelar traz Ralph Fiennes e Tony Revolori nos papéis principais, além de F. Murray Abraham, Mathieu Amalric, Willem Dafoe, Jeff Goldblum, Harvey Keitel, Jude Law, Bill Murray, Edward Norton, Tilda Swinton e Léa Seydoux, entre outros.
 
Ao fazer o anúncio, Dieter Kosslick, diretor da Berlinale, manifestou sua satisfação de ter o diretor americano abrindo o evento.
 
 “Nós estamos felizes por Wes Anderson abrir a 64ª Berlinale com seu novo filme.  Com o inconfundível charme de Anderson, esta comédia promete dar partida à Berlinale, no melhor estilo possível. Além de sua marca inimitável, o filme tem um elenco fantástico e um elaborado design de produção”, declarou, acrescentando que  muitos dos filmes escolhidos exploram o impacto da sociedade moderna na vida das pessoas.
 
“Com estilos artísticos diversificados, a seleção 2014  aponta uma tendência de filmes com histórias sobre as condições de vida das pessoas no mundo globalizado de hoje” define Kosslick, com o conhecimento de causa de quem está à frente do festival desde 2001.
 
Brasileiros
 
O Brasil está bem representado neste ano.  Além de estar na mostra oficial, a principal do Festival,  participará de várias paralelas.
 
Praia do Futuro, do cearense Karim Ainouz  (Madame Satã, Céu de Suely) concorre ao Urso de Ouro,  seis anos depois de Tropa de Elite, de José Padilha (2008), ter conquistado o prêmio máximo da Berlinale.
 
O filme de Ainouz  segue  um salva-vidas (Wagner Moura) que sai do Brasil em busca de uma paixão na Alemanha.  Dez anos depois, seu irmão mais novo (Jesuíta Barbosa) que o tinha como herói, tenta encontrá-lo em Berlim.
 
O diretor, que mora em Berlim desde 2009, disse que é um orgulho representar o Brasil na competição e uma alegria estar num festival com o porte de Berlim.
 
Ainouz também marca presença na Berlinale Especial com  Cathedrals of Culture.  O filme, dirigido coletivamente por Wim Wenders, Michael Glawogger, Michael Madsen, Robert Redford, Margreth Olin e Aïnouz, foi filmado em 3D e terá première mundial no festival.
 
A Panorama, paralela mais prestigiada do festival, selecionou dois brasileiros: O Homem das Multidões, de Marcelo Gomes e Cao Guimarães; e Hoje eu Quero Voltar Sozinho, de Daniel Ribeiro. 
 
O Homem das Multidões aborda as diferentes formas de solidão e amizade, através  da história de Juvenal, um maquinista de metrô e Margô, que controla o fluxo dos trens.
 
Ribeiro retorna ao festival, onde em 2008 ganhou o Urso de Cristal na Mostra Geração com o curta-metragem Café com Leite. Seu novo filme segue Leonardo, um adolescente cego buscando ser independente. 
 
A participação brasileira acontece também na Mostra Geração com o curta-metragem Eu Não Digo Adeus, Digo Até Logo, de Giuliana Monteiro; e na Mostra  Fórum com Castanha, de Davi Pretto.
 
O filme de Pretto segue João, um ator de 50 anos que passa seu tempo entre seu emprego à noite como um travesti e trabalhos menores em filmes e peças de teatro.  Atormentado por fantasmas do passado, João começa a encarar a realidade na qual vive, contraposta com a ficção que  está interpretando.
 
Outras Participações Brasileiras
 
O Brasil também marcará presença em várias outras atividades que acontecem no âmbito do festival, tais como:
 
Na Fórum Expanded –  uma extensão da mostra Fórum, que contempla instalações, vídeos, debates, seminários e outras modalidades – será mostrado o filme Fernando que Ganhou um Pássaro do Mar, de Felipe Bragança e Helvécio Marins Jr. (Portugal / Brasil).  
 
Em Books at Berlinale, uma aproximação entre livros e cinema, a cantora mato-grossense Vanessa da Mata participa com sua estreia na literatura com o romance Filha das Flores.
 
Na Berlinale Nativa, destinada a temas indígenas, com Terra Vermelha,  do diretor ítalo-chileno  Marco Bechis (Brasil / Itália 2008).  O filme é roteirizado pelo paulista Luiz Bolognesi (Bicho de Sete Cabeças).
 
Terra Vermelha é um filme sobre o conflito de terra entre indígenas Guarani Kaiowá e latifundiários na região de Dourados, Mato Grosso do Sul.  Para além do tema central, que é a questão da terra, o filme discute aspectos como o suicídio e alcoolismo entre os indígenas, relação de poder e o estereótipo em torno deles.
 
 
Mostra Oficial
 
Praia do Futuro é um dos 20 títulos da mostra oficial – cujo júri será presidido pelo produtor e roteirista James Schamus (As Aventuras de Pi).
 
Entre os concorrentes, se destacam Boyhood, de Richard Linklater (EUA); The Little House, de Yoji Yamada (Japão); e Aimer, Boire et Chanter, do veterano diretor francês Alain Resnais, que tenta o prêmio pela terceira vez. 
 
O país anfitrião está bem representado com quatro títulos: Jack, de Edward Berger; Stations of the Cross, de Dietrich Brüggemann; Inbetween Worlds, de Feo Aladag; e Die Geliebten Schwestern, de Dominik Graf.
 
A Argentina comparece com duas produções  La Terceira Orilla, de Celina Murga e Historia del Miedo, de Benjamin Naishtat.
 
Também geram expectativa: Stratos, de Yannis Economides (Grécia); e Aloft, de Claudia Llosa (Espanha), ganhadora do Urso de Ouro em 2009, com A Teta Assustada.
 
The Monuments Men, novo filme de  George Clooney  será mostrado fora de competição
 
A cerimônia de premiação acontecerá em 15 de fevereiro no Palácio dos Festivais.  O evento encerrará com uma sessão especial do filme vencedor do Urso de Ouro.
 
 
Panorama completa 28 anos
 
 
A Mostra Panorama, destinada a filmes de cunho social e qualidade artística, apresentará uma programação bastante diversificada com títulos da Europa, Estados Unidos, América Latina e Ásia.  
 
A paralela é formada pela Panorama Principal, Panorama Especial e Panorama Documenta.
 
Além dos brasileiros, são aguardados com expectativa: Superegos, de Benjamin Heisenberg (Alemanha); Calvary, de John Michael McDonagh (Irlanda); Is the Man Who is Tall Happy?, de Michel Gondry  (França); e Journey to the West, de Tsai Ming-liang  (França / Taiwan), estrelado por Lee Kang Sheng e Denis Levant.  
 
Também se destaca Love is Strange, de Ira Sachs (EUA). O filme que esteve recentemente no Festival de Sundance, é roteirizado pelo brasileiro Maurício Zacharias e traz no elenco Marisa Tomei, Alfred Molina e John Lithgow.
 
A Panorama Principal terá início em 06 de fevereiro e terá como filme de abertura 2030, de Minh Nguyen-Vo, representante do Vietnam. 
 
Em 07.02 Yves Saint Laurent, de Jalil Lespert abrirá a Panorama Especial.
 
Homenagens e Retrospectivas 
 
O Urso Honorário, tributo pelo conjunto da obra, será entregue ao diretor britânico Ken Loach, de 77 anos.
 
A homenagem será acompanhada de uma mostra com 10 dos seus filmes: entre outros, a série de tevê Cathy Come Home, Terra e Liberdade, Meu Nome é Joe, Os Navegadores e À Procura de  Eric.
 
A Retrospectiva terá como tema central  a iluminação no cinema. Intitulada Estética da Sombra, a Mostra será constituída de  40 filmes mudos e sonoros, focalizando estilos de iluminação de diversos gêneros. Entre os destaques,  estão alguns  títulos recentemente restaurados como Under the Lantern, de Gerhard Lamprecht, (Alemanha, 1928);  A Marca do Zorro, de Fred Niblo (1920) e O Máscara de Ferro, de Allan Dwan (1929), ambos americanos. 
 
A Berlinale terá também,  na sua tradicional mostra destinada a filmes restaurados, a premiere mundial do grande clássico O Gabinete do Dr. Caligari, de Robert Wiene.
 
O fime, que teve seu lançamento em 1920, será mostrado, em sua nova versão restaurada digitalmente, 94 anos depois.  A exibição será acompanhada por concerto executado pela Berliner Philharmonie.
 
 
TÍTULOS DA MOSTRA OFICIAL
 
 
Black Coal, Thin Ice, de Yinan Diao – Republica Popular da China
Boyhood, de Richard Linklater – EUA
The Little House, de Yoji Yamada – Japão
Historia del Miedo, de Benjamin Naishtat – Argentina / Uruguai / Alemanha / França
Jack, de Edward Berger – Alemanha
In Order of Disappearance, de Hans Petter Moland – Noruega / Suécia / Dinamarca
Stations of the Cross, de Dietrich Brüggemann – Alemanha
La Tercera Orilla, de Celina Murga – Argentina / Alemanha / Holanda
La Voie de L’Ennemi, de Rachid Bouchareb – França / Argélia / EUA / Bélgica
Macondo, de Sudabeh Mortezai – Áustria 
Praia do Futuro, de Karim Aïnouz – Brasil / Alemanha
Blind Massage, de Ye Lou – República Popular da China
No Man’s Land, de Hao Ning – República Popular da China
Inbetween Worlds, de Feo Aladag – Alemanha
’71, de Yann Demange (Reino Unido)
Aimer, Boire et Chanter, de Alain Resnais (França)
Aloft, de Claudia Llosa (Espanha, França)
Die Geliebten Schwestern, de Dominik Graf (Alemanha)
Stratos, de Yannis Economides (Grécia)
The Grand Budapest Hotel, de Wes Anderson (Reino Unido, Alemanha)
 
 
 
Fora de competição
 
The Monuments Men, de George Clooney (Alemanha, EUA)
Ninfomaníaca, Volume I, de Lars von Trier (Dinamarca / Alemanha / França)
Beauty and the Beast, de Christophe Gans – França / Alemanha