A CRUEL REALIDADE DA VIOLÊNCIA
     
 

Myrna Silveira Brandão

PUBLICADA EM 24.05.14


A aparição nos créditos iniciais, do nome de Carlos Reygadas como produtor e o fato de se tratar de uma coprodução entre México, França, Alemanha e Holanda, tem sido um fator de atração para o filme Heli, de Amat Escalante.  Mas a produção tem provocado reações opostas por onde tem passado. 
 
O filme concorreu à Palma de Ouro em Cannes, como único representante latino-americano no evento e surpreendeu a todos quando Escalante saiu de lá com  o prêmio de melhor diretor debaixo do braço. Alguns acharam o troféu merecidíssimo, outros foram contra e ficaram até curiosos sobre o  que teria levado o júri, presidido por Steven Spielberg, a premiar um filme tão violento.
 
Lá como aqui, o filme tem deixado parte da  plateia chocada por sua abordagem de violência do tráfico com cenas de tortura explícita incluindo pessoas  incendiadas.
 
Alguns jornalistas deixaram a sessão visivelmente incomodados com suas cenas excessivamente  duras, que denunciam o tráfico de drogas e a política corrupta do México.
 
A história, passada na região fronteiriça com os Estados Unidos, segue  Heli, o protagonista que trabalha na indústria automotora. Sua irmã de 13 anos inicia uma relação perigosa com um soldado das forças de combate a traficantes.
 
Só que o próprio soldado e outros integrantes do pelotão, incluindo o chefe, estão desviando drogas que deveriam destruir.
 
Espanhol, nascido em Barcelona em 1979, Escalante apresenta  um retrato do México de uma forma previsível do que poderia ser esperado  de um olhar estrangeiro, ou seja,  sem um aprofundamento maior na questão.
 
Escalante justifica  a violência do seu filme dizendo que ela é um espelho da  realidade e das sequelas que o  tráfico de drogas deixa no seu rastro.
 
“É um filme dramático, mas a realidade mexicana é ainda mais grave do que mostro na tela”, ressalta o diretor afirmando que, devido a isso, acredita que as cenas de tortura explícita fazem todo o sentido. 
 
“Se uma cena de violência não assusta é porque não foi capaz de captar o choque da realidade”, acredita.
 
Para ele, a carga excessiva de violência, além de ser necessária, tem um objetivo específico. 
 
“O excesso é necessário para expor o horror da submissão e da exclusão econômica e social. No cinema, a violência que não incomoda, acaba em glamour e banaliza a agressão”, conclui o diretor mexicano que, com Heli, realiza seu terceiro longa-metragem.
 
O maior mérito do filme é mostrar a banalização da violência como parte da rotina de nossas vidas.
 

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