RESNAIS FAZ A CENA | |||||||||||||||
Carlos Augusto Brandão
PUBLICADA EM 28.07.14
Mesmo ausente, considerando que seus 91anos já recomendavam alguns cuidados, o cineasta Alain Resnais foi o centro das atenções na 64ª edição do Festival de Berlim em fevereiro último. Amar, Beber e Cantar – que chega ao circuito – concorreu ao Urso de Ouro, ganhou o prêmio da crítica internacional (FIPRESCI) e o troféu Alfred Bauer (por trabalho inovador que abre novas perspectivas para o cinema). Infelizmente, em 01 de março, 15 dias após a premiação, o consagrado cineasta francês faleceu em Paris. Seu último filme é baseado na peça Life of Riley, de Alan Ayckbourn, e marcou uma nova parceria de Resnais com o dramaturgo britânico, de quem já tinha adaptado para as telas a comédia Smoking / no Smoking (1993) e Medos Privados em Lugares Públicos (2006). No estilo “teatro filmado”, como ultimamente vinha sendo característica do diretor, a história segue três casais que se reúnem diante da morte iminente de um deles. A trágica notícia terá consequências surpreendentes sobre o círculo de amigos. O elenco, composto por atores constantes nos filmes de Resnais, conta com Sabine Azéma, Hippolyte Girardot, Sandrine Kiberlain, André Dussollier, Caroline Silhol e Michel Vuillermoz Resnais apenas colaborou no roteiro, que foi adaptado por Laurent Herbiet e Caroline Silhol, já que ele era conhecido por não gostar de roteirizar seus filmes. Resnais costumava dizer que sua motivação no cinema estava mais ligada aos entendimentos com a equipe técnica, ao desenvolvimento da filmagem e ao trabalho com os atores. Embora na maioria dos seus filmes tenha procurado sempre contar com o melhor elenco, é também inegável que ele era um excelente diretor de atores, conseguindo deles um desempenho sutil e envolvente que dá credibilidade aos personagens e aos dramas engendrados nas histórias que trazia para as telas. Assim foi com os problemas existenciais em Providence, com o drama do exílio em A Guerra Acabou, com o enigma do tempo e da memória em Ano Passado em Marienbad e Hiroshima Meu Amor e com os acontecimentos inesperados da vida neste seu último trabalho. O veterano cineasta mostrava a vitalidade de um jovem e ainda mantinha planos de levar para as telas a vida do Marquês de Sade e um filme baseado em histórias de quadrinhos, uma de suas grandes paixões ao lado do cinema, que ele considerava uma arte sempre em ascensão. “Eu não acredito que o cinema corra o risco de morrer, como gostam de dizer. O encanto e a magia que ele tem não mudou em 100 anos e não creio que vá mudar daqui em diante. Ele vai continuar cada vez mais vivo”, costumava dizer, reafirmando que depois de 70 anos de carreira nada mudou na sua forma de encarar o cinema. Amar, Beber e Cantar tem muitas qualidades e captura os espectadores, mas mesmo que não tenha sido um dos melhores filmes de sua carreira, a premiação em Berlim foi recebida sem surpresas e com naturalidade e aplausos pelos cinéfilos que participavam da Berlinale. Imprimir |
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