OS VAMPIROS SEGUNDO JARMUSCH
     
 

Carlos Augusto Brandão

PUBLICADA EM 17.08.14


Amantes Eternos (Only Lovers Left Alive), novo filme de Jim Jarmusch – que chega ao circuito –  foi lançado na 30ª edição do Festival de Sundance em janeiro último.  Nada mais coerente. Jarmusch é um dos símbolos do cinema independente e foi muito aplaudido na sessão da prestigiada Mostra Spotlight do festival, conhecida como um tributo “ao cinema que amamos”.
 
Estrelado por Tilda Swinton e Tom Hiddleston, o filme segue Eve e Adam, um casal de vampiros vivendo juntos através de séculos. 
 
Histórias de vampiros costumam ter várias formas, estilos e tamanhos. A dupla do filme de Jarmusch anda sempre bem vestida, é altamente sofisticada,  tem um gosto refinado para a música e literatura (o melhor amigo do casal é o dramaturgo Christopher Marlowe – 1564 /1593) e ainda se ama como recém casados, apesar de estarem juntos há séculos.
 
Enquanto Eve procura, nas ruas não tão desertas de Tanger, encontrar Marlowe (John Hurt), Adam se transformou num recluso radical.  Escondido numa velha casa de uma parte abandonada de Detroit, ele toca clássicos em vinil e coleciona guitarras  que Ian, um tipo vagabundo  (Anton Yelchin) traz para ele.
 
Também podemos vê-los andando pela casa ouvindo grandes peças musicais, “bebendo”  sangue de qualidade, falando sobre velhos conhecidos como Lord Byron ou admirando galeria de fotos de heróis artísticos como Buster Keaton e Mark Twain. Em outros momentos, os dois fazem tour noturno no velho jaguar de Adam numa Detroit dizimada que, implicitamente,  representa  no que os seres humanos transformaram a sociedade.
 
No lançamento em Sundance, Jarmusch disse que o filme é um projeto antigo e que há sete anos vinha querendo dirigir uma história sobre vampiros.
 
“Estava encontrando muita dificuldade para obter financiamento, mas Tilda com quem eu havia falado, desde o inicio, nunca desistiu, mesmo quando tudo parecia ter ficado complicado. Devo muito a ela termos concretizado o projeto”, reconheceu, explicando porque decidiu colocar dois atores britânicos nos papéis principais.
 
“Até onde consigo me lembrar, as  historias de vampiros na literatura vem sempre da Inglaterra.  Não sei bem explicar, mas há alguma coisa muito britânica sobre eles. A percepção que os ingleses têm sobre vampiros e suas histórias é excepcional, diferente das do resto do mundo.  Então, eu quis iluminar esse aspecto da questão”, declarou o diretor  expondo as razões de sua escolha das locações.
 
“Tanger  e Detroit são cidades abstratas, são dois lugares que me atraem por razoes pessoais. Detroit foi uma cidade misteriosa e mágica e hoje é uma cidade com algo de trágico e depressivo.  No entanto,  ainda tem uma cena musical inspiradora e a música é um elemento importante na história.  Nada foi escolhido por acaso, o filme tem um visual musical”, ressalta.
 
O novo filme do diretor nascido em Ohio é tão bom quanto os anteriores que o revelaram, como Estranhos no Paraíso, Daunbailó e, principalmente, Matador Implacável (Ghost Dog, de 1999), um de seus melhores trabalhos.  O cultuado cineasta, mais uma vez, dá seu recado com muita competência.
 

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