JUSTIÇA ACIMA DE TUDO
     
 

Carlos Augusto Brandão

PUBLICADA EM 07.12.14


Michael Kohlhaas, de Arnaud des Pallières, é uma adaptação do romance de Heinrich Von Kleist (1777-1811) e refilmagem de Tirano da Aldeia, de Volker Schlöndorff.
 
O filme tem tido concorridas sessões por onde tem passado em parte pelo fato de um diretor pouco conhecido – e, até então, realizador de documentários para tevê – ter tido seu trabalho como um dos títulos concorrentes à Palma de Ouro em Cannes. 
 
Ambientado no século 16, o filme conta a história verídica de um comerciante alemão, em Cévennes, que depois de um barão local apreender seus cavalos, busca reparação nos tribunais públicos, antes de iniciar uma verdadeira guerra em busca de justiça e para recuperar seus direitos.
 
Em 1969, quando realizou o filme, Schlöndorff acrescentou imagens de noticiários mostrando protestos estudantis em todo o mundo, para fazer um paralelo direto com a agitação de 1968.  Pallières, ao contrário, parece ter sido  mais inspirado pela belíssima paisagem das locações do que pela história ou quaisquer comparações contemporâneas.
 
O diretor explica que contar a história de Michael Kohlhaas era um projeto antigo, mas levou um tempo para que ele se sentisse em condições de realizá-lo.
 
“Eu tive muito dificuldade para entender e avaliar a complexidade do personagem. Eu li essa história quando era ainda muito jovem e estava começando meus estudos e senti, de imediato, quão complexo e rico ele era, mas não me achava maduro o suficiente para realizar alguma coisa com ele. Agora, achei que era tempo de fazê-lo”, conta des Pallières se defendendo de alguns comentários que o criticam de aprofundar o foco em aspectos mais visuais do que históricos.
 
“Eu procurei algo que fosse semelhante à história como aconteceu. O que me interessou nos cenários naturais era que eles transmitiam os sentimentos dos personagens. Tentei me aproximar da obra revolucionária de Kleist, as coisas que ele tinha em mente e, para isso, a paisagem das regiões de Vercors e de Cévennes foi fundamental”, destaca.
 
Sobre a adaptação livro para as telas, des Pallières diz que ela reflete sua interpretação pessoal.
 
“Alguns momentos do livro me abalaram profundamente como, por exemplo, um homem que renunciava ao poder por honestidade e rigor. Alguns outros personagens também me sensibilizaram muito e, por isso, tem um destaque maior no filme. Enfim, eu procurei realizar um Kohlhaas de acordo com minhas emoções e percepções”, afirma ressaltando que a intensidade da atuação de Mads mostra o personagem tão complexo quanto ele é no livro.
 
De fato,  Mads tem uma interpretação impressionante e, conforme tem dito em entrevistas, precisou de uma preparação especial para viver Kohlhaas.
 
“Aprendi a falar francês o que não foi fácil, bem como aprendi a trabalhar com os outros atores. Na verdade, a partir de um determinado momento, o filme acabou por nos tocar a todos pessoalmente. Dei vida a este personagem e quero defendê-lo. Ele é um  homem radical que acredita na justiça e quer encontrar os seus cavalos, mas que, na sua busca, perde tudo”, ressalta.
 

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