UM TALENTO PROMISSOR
     
 

Carlos Augusto Brandão

PUBLICADA EM 11.12.14


 
Mommy deu ao canadense Xavier Dolan, o Prêmio de melhor diretor do Júri de Cannes 2014, dividido com Adieu au Langage, de Jean-Luc Godard.  
 
A diferença de idade impressiona. Godard, tem 83 anos.  Dolan tem 25 e Mommy é seu quinto filme.
 
A trama segue Diane Després (Anne Dorval), uma mãe solteira que, além de poucos recursos financeiros, tem problemas com seu filho Steve (Antoine-Olivier Pilon), um jovem doente e agressivo. O Governo acena com a possibilidade de colocá-lo num programa de acolhimento, mas ela luta para dar um futuro mais digno para Steve.
 
As coisas tomam outro rumo quando ela conhece Kyla (Suzanne Clément) uma vizinha que, embora com problemas de fala, é muito generosa.
 
Dolan retoma seu tema preferido – a relação entre mãe e filho – já visto em seus trabalhos anteriores como Eu Matei Minha Mãe, Amores Imaginários e  Tom à la Ferme.  Com este último, ganhou o prêmio da crítica no Festival de Veneza 2013. 
 
Apesar da pouca idade é um diretor com mão  forte que aposta nas próprias vivências, o que torna seus trabalhos parcialmente autobiográficos.
 
Dolan diz que a origem do filme partiu do seu desejo recorrente de abordar o relacionamento entre mãe e filho.
 
“Quis mostrar também que o impedimento que um ame o outro é a sociedade, o empecilho da classe social que é passado de geração para geração. Quebrar esse ciclo vicioso exige muita coragem.  Diane a tem, mas o filho é doente, o que torna a situação mais complicada”, explica o diretor que assume o viés autobiográfico do filme.
 
“Eu tive muito pouco contato com meu pai quando criança. Certamente por isso, por enquanto a figura paterna não me inspira. Acho que as mulheres, longe de seus estereótipos sociais, merecem mais atenção”.
 
O diretor foi  atraído pelo mundo das artes desde muito jovem. Ainda adolescente em Montreal, vivia correndo atrás de produtores e atores para conseguir convites para as estreias das peças.
 
“Na época não davam a menor atenção e até me achavam prepotente porque eu vivia dizendo que um dia iria a Cannes. Mas hoje me respeitam e muitos vêm até me pedir trabalho”, afirma dando sua opinião sobre ter dividido o prêmio, no festival francês, com um dos diretores mais consagrados do cinema. 
 
“Acho que foi um gesto deliberado do júri por causa das nossas idades. E, embora com estilos diferentes, por procurarmos a liberdade no cinema”, desconversa.
 
Apesar de ainda muito jovem, críticos renomados têm afirmado que Dolan já atingiu certa maturidade, reconhecida também pela seleção em grandes festivais internacionais e pela avaliação do próprio diretor.
 
“Sem falsa modéstia, reconheço que houve uma evolução. Do ponto de vista artístico, aprendi com meus erros, para não repeti-los. Procurei ficar mais distante do cinema com propostas apenas intelectuais. Compreendi que são os personagens que tornam a narrativa interessante ou não”, ressalta afirmando que hoje se considera uma pessoa melhor.
 
“No passado era muito arrogante e até  desdenhava de coisas consideradas comerciais. Hoje me sinto feliz de ver um filme como “Thor” e me divertir. Há uns cinco anos, acharia um horror. Erradiquei preconceitos esnobes e infantis, estou mais aberto e acho que isso me fez bem”, destaca.
 
Em última análise, a julgar pelos filmes realizados até agora, não há dúvidas que o talento de Dolan prenuncia uma promissora e vitoriosa carreira. 
 

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