UM MESTRE EM FORMA
     
 

Myrna Silveira Brandão

PUBLICADA EM 01.08.15


Adeus à Linguagem, de Jean-Luc Godard – que chega ao circuito – foi um dos destaques da  edição 2014 do Festival de Nova York.
 
Após o sucesso em Cannes, onde Godard ganhou o prêmio de melhor diretor dividido com Mommy, do jovem canadense Xavier Dolan, o filme tem sido muito bem recebido pela crítica é um dos melhores trabalhos do diretor francês.   
 
Godard tem 83 anos, Dolan, 25. A diferença de idade não parece influir no talento de ambos.  Dolan tem uma carreira promissora, Godard é um mestre em plena forma.
 
Representante da Nouvelle Vague, o consagrado cineasta  inventou uma nova maneira de se fazer cinema em filmes ousados como Acossado (1960) , entre muitos outros.
 
Ao explicar o seu filme, o veterano diretor diz que é uma trama simples.  
 
“Uma mulher casada e um homem solteiro se encontram. Se amam, brigam... Um cachorro vaga entre a cidade e o campo. As estações passam. O homem e a mulher se encontram novamente. O cachorro encontra os dois”, detalha o diretor,  dando margem a muitas interpretações.
 
A história segue. O antigo marido aparece e um segundo filme começa, parecendo ser o mesmo, mas não é: do foco no casal, a trama segue um caminho tortuoso, cheio de metáforas.
 
O filme segue no mesmo estilo dos filmes mais recentes de Godard, que abrange imagens, citações e colagens de grandes escritores, bem como  ideias sobre o amor, a vida e o estado do mundo. História quase não há.  Apenas o cachorro, a natureza e o casal.
 
Mais uma vez, há três elementos, uma abordagem que vem sendo recorrente nos últimos trabalhos do diretor: Elogio do Amor contemplava passado, presente e futuro; Nossa Música é dividido em três capítulos: Inferno, Purgatório e Paraíso. Filme Socialismo também tem três momentos:  o cruzeiro marítimo; um processo; e as escalas do navio em seis lugares.
 
Conforme tem enfatizado em entrevistas, Godard, já há algum tempo, vem compartilhando essa ideia de produzir roteiros triplos, muitos deles com sua mulher, a também cineasta Anne-Marie Miéville.
 
“Um passado, um presente, um futuro; uma imagem, outra imagem e a seguinte. Para mim, a terceira é aquela que não se vê e deriva do que se viu e do que se verá”, explica (ou confunde) o cineasta que mantém, no entanto, seu estilo único.
 
Adeus á Linguagem tem vários elementos que marcaram sua carreira: os movimentos de câmera, o som não sincronizado com a imagem, uma narração que deixa a impressão de não ser o elemento mais importante do filme. 
 
Num vídeo de divulgação  – que  contém diversos trechos de filmes seus, como Rei Lear (1987) e Alemanha Nove Zero (1991) – Godard deixa uma mensagem sobre Adeus à Linguagem.
 
“Este é o meu melhor trabalho”, resume.
 

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