UMA VISÃO POÉTICA DE PASOLINI
     
 

Carlos Augusto Brandão

PUBLICADA EM 09.11.15


Quando Pasolini, de Abel Ferrara, estreou no Festival de Nova York  foi recebido com surpresa e reservas, mas também com aplausos.
 
A não unanimidade talvez esteja no fato de o filme não revelar nada de novo ou polêmico sobre o controverso cineasta. Ou também pelo viés poético dado ao personagem, principalmente vindo de um diretor conhecido por obras fortes como Vício Frenético (1992) ou o recente Bem-vindo à Nova York.
 
O filme - que chega agora ao circuito brasileiro -  recria as últimas 24 horas da vida do cineasta, poeta e escritor italiano, quando ele conversa com seus familiares, dá uma entrevista brutalmente honesta, escreve, divide uma refeição com o amigo Ninetto Davoli (Riccardo Scamarcio) e vai ao encontro da tragédia no seu Alfa Romeo cinza.
 
A narrativa alterna esses eventos com cenas e personagens tirados de projetos que Pasolini desenvolvia como um novo capítulo do romance “Petrolio”.
 
Ferrara diz que procurou traçar um retrato de tudo aquilo que Pasolini representava.
 
“Meu objetivo foi oferecer uma visão sobre sua vida, obra e paixões. Ele era um homossexual que combatia o poder, vivia em permanente vigilância e, mesmo assim, conseguia se reinventar constantemente. O filme tem como ponto de partida esse respeito por ele”, ressalta.
 
Willem Dafoe tem um excelente desempenho no papel-título.  É também  significativa a presença de Ninetto Davoli, amigo e ator em 11 filmes de Pasolini.
 
Ninetto está numa sequência importante interpretando Epifânio.  O personagem faz parte de Porno-Teo-Kolossal, que nunca foi concretizado por Pasolini, mas que Ferrara o coloca no seu filme.
 
Ninetto manifesta sua discordância daqueles que se referem ao espirito autodestrutivo de Pasolini.
 
“Ele amava a vida. Denunciou quando fomos capturados por um sistema consumista que destrói o ser humano e por isso lutava contra, com todas as suas armas.  Incomodava muita gente”, lembra Ninetto, destacando que ele enfrentou mais de 30 processos ao longo da vida.
 
“Ele não se importava, não se deprimia, nada podia detê-lo”, destaca. 
 
O filme expressa a personalidade de Pasolini, até mesmo em seu desfecho trágico, que não foi surpreendente. 
 
Ferrara descreve bem numa frase a tumultuada vida e morte do cineasta italiano.
 
“A morte de cada um reflete a sua própria vida”, diz Ferrara se referindo ao talentoso autor de obras como Teorema (1968) e Os Contos de Canterbury, cujo trágico desaparecimento ainda não foi totalmente explicado.
 
Trinta e nove anos depois de ter sido assassinado, as circunstâncias da sua morte são até hoje envolvidas em dúvidas e mistério.
 

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