HAYNES DIZ QUE ESTÁ ORGULHOSO DE "CAROL"
     
 

Myrna Silveira Brandão

PUBLICADA EM 01.01.16


A abordagem da temática gay no cinema é antiga, tendo marcado presença em muitos filmes de guerra e faroestes, principalmente americanos.
 
Mas diferentemente da  forma mais velada ou metafórica como era tratado, de uns tempos para cá tem sido mais explícito, tanto na abordagem do homossexualismo masculino quanto no feminino, casos por exemplo de  “O Segredo de Brokeback Mountain”, que deu o Oscar de melhor diretor para Ang Lee em 2006 e o recente  “Azul é a Cor mais Quente”, de Abdellatif Kechiche, que  ganhou a Palma de Ouro em Cannes.
 
O tema voltou a ser destaque com “Carol”, de Todd Haynes. O filme – que agora chega ao circuito –  foi destaque no festival francês e muito aplaudido na 53ª edição Festival de Nova York.
 
Baseado no livro de Patrícia Highsmith e ambientado na conservadora década de 1950, “Carol” segue duas mulheres de classes sociais diferentes: uma delas, vivida por Cate Blanchett, é Carol Air uma mulher sofisticada e segura de si que está passando por uma crise no casamento.  A outra, interpretada por Rooney Mara, é uma tímida vendedora de uma loja de departamentos.
 
Elas se conhecem por acaso quando Carol está fazendo compras de Natal num shopping e desenvolvem, de forma instantânea, uma forte atração que vai crescendo progressivamente.
 
O filme tem a excelente montagem do paulista radicado nos EUA Affonso Gonçalves, também responsável, entre outros, pela edição de Indomável Sonhadora (2012).
 
Outro ponto alto do filme é a impecável direção de arte de Jesse Rosenthal, na reconstituição dos EUA da década de 1950, bem como o desempenho dos atores, com destaque para as duas atrizes.  Mara dividiu o prêmio de melhor atriz em Cannes com Emmanuelle Bercot por Mon Roi. Para elas, o diretor tem os maiores elogios.
 
“Elas trouxeram seriedade ao trabalho nos mínimos detalhes, a preparação, o cuidado. E de  fato também  houve uma química incrível, a conexão entre elas, o que  não foi uma surpresa total para mim”, ressalva.
 
“A química acontece ou não, você não pode criar, ela está lá ou não está”, completa Mara. 
 
Blanchett diz que a segura direção de Haynes e a sensibilidade do roteiro foram fundamentais para o bom resultado do filme. 
 
“Duas mulheres se apaixonando é alguma coisa que não vemos frequentemente nas telas, no entanto é algo que acontece fora do controle delas e não há nada que se possa fazer. Mas não é diferente de uma mulher se apaixonar por um homem”, ressalta Blanchett, revelando que sempre fica tensa em cada sessão do filme. 
 
“Mara está perfeita e estou consciente que Todd fez um belo filme, mas a gente nunca sabe se ele vai se conectar profundamente com os espectadores que não foram parte do processo, e por isso cada vez que as sessões terminam é um alívio”, diz a atriz.
 
Sobre as muitas sequências de não ditos, onde predomina o silêncio, Haynes explica que isso se deve à sua decisão de ser fiel ao livro e à época em que o filme é ambientado. 
 
“Imaginem essas mulheres vivendo  num mundo tão diferente em plena década de 50. A questão do silêncio é uma parte importante do livro porque Therese tem dificuldade de encontrar a sintaxe  para descrever seus sentimentos por Carol, é difícil colocar isso numa linguagem”, diz  o diretor complementado por Mara.
 
“Eu adoro essas passagens no filme, o espaço entre as palavras, eu sinto que fala mais do que a história nesses momentos”, avalia a atriz. 
 
Falando sobre a boa acolhida a Carol, Haynes diz que, embora conheça o filme melhor do que ninguém, não tem a objetividade que os espectadores têm.
 
“Eu ainda estou processando  a boa receptividade que Carol vem tendo. Acho que é um filme calmo, sereno e estou muito orgulhoso dele”, revela. 
 
 

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