NERUDA SOB O OLHAR DE LARRAÍN
     
 

Myrna Silveira Brandão

PUBLICADA EM 15.12.16


“Neruda”, de Pablo Larrain – que agora chega ao circuito – foi  um dos destaques da 54ª edição do Festival de Nova York.   
 
O diretor chileno estava de volta ao festival, onde esteve em 2008 com “Tony Manero”, história de um bailarino ambientada na época da ditadura; em 2010, com “Post Mortem”, sobre o outro 11 de setembro, o chileno;  e, em 2012 com “No”, que deu continuidade à sua trilogia sobre a ditadura de Pinochet.
 
O novo filme, que Larraín se apressa em qualificar de uma “anti-biografia” de Pablo Neruda, tinha sido lançado na Semana dos Realizadores em Cannes.
 
A história começa em 1948, pouco antes de o poeta chileno (1904-1973) ser forçado a se esconder.  Senador e comunista, Neruda foi considerado inimigo do Estado quando condenou violentamente e em público o presidente Gabriel González Videla.  Expulso do Senado e de sua casa, passou a viver na clandestinidade  junto com a mulher Delia, e obsessivamente perseguido por um policial.
 
Com desempenhos excelentes, o poeta é vivido por Luis Gnecco, Délia por Mercedes Moran e o policial é interpretado por Gael García Bernal.
 
Larraín, que preferiu inserir Neruda num momento histórico específico mostrando-o como um poeta do povo, intelectuais e trabalhadores, explica as razões de ter optado por não fazer uma biografia tradicional.
 
“A poesia de Neruda é multifacetada, ele escreveu sobre inúmeras coisas de várias formas.  Por isso preferimos centrar nos seus poemas ligados à política e ideologia.  É terrivelmente complexo porque sua poesia é muito variada”, diz o diretor revelando que Gnecco foi sua primeira opção para o papel.
 
“Nós já havíamos trabalhado juntos outras vezes, inclusive em “No”.   Eu o procurei e o convidei, ressalvando que ele precisava engordar 25 quilos. Embora ele acabasse sair de um regime para emagrecer, Gnecco concordou e foi fantástico”, elogia Larraín lembrando o fato de Garrel também ter trabalhado em “No” e ser igualmente sua primeira escolha.
 
“Ele estava na minha mente desde o começo, desde que estávamos desenvolvendo o roteiro”, ressalta o diretor, que não confirma comentários correntes sobre planos de fazer um filme sobre Salvador Allende.
 
“Já pensei nisso algumas vezes, mas não é meu objetivo, na verdade acho que não o farei. Para fazer um filme sobre alguém é preciso ter alguma empatia, o que não acontece neste caso”, atesta o engajado diretor com a coerência que caracteriza seu trabalho.
 

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