NOVOS TEMPOS SOB A ÓTICA DE SORRENTINO
     
 

Carlos Augusto Brandão

PUBLICADA EM 02.02.14


 
UM OLHAR MELANCÓLICO DO PASSADO   
 
A Grande Beleza, do diretor italiano Paolo Sorrentino,  tem recebido aplausos por onde tem passado, não apenas para a produção, mas também para o ótimo  desempenho de Toni Servillo, novamente trabalhando com o diretor. 
 
O filme – que chega somente agora ao circuito nacional –  é a versão de Sorrentino para A Doce Vida, de Federico Fellini, embora tal afirmativa venha sendo contestada pelo diretor. 
 
Servillo é Jep Gambardella, um escritor que se converte em jornalista, como Marcello Mastroianni no clássico de 1960.
 
Ele escreveu um único livro e, como Mastroianni, frequenta os ricos e poderosos, faz entrevistas para uma revista de prestígio, enfim vira uma celebridade. Enquanto busca sentido para sua vida em uma jornada boêmia com intelectuais e beldades, vão desfilando na tela personagens fúteis e vazios, claros exemplos da decadência da sociedade contemporânea.
 
Através de Jep e das figuras que frequentam as festas e orgias noturnas em Roma,  Sorrentino faz uma dura crítica às elites intelectuais, religiosas, políticas e econômicas da Itália.
 
Sorrentino é um dos diretores mais representativos da atual onda autoral em voga no cinema italiano –  chamada de Risorgimento –  em filmes como As Consequências do Amor, O Amigo da Família, Il Divo e Aqui é o Meu Lugar.
 
As comparações sobre a similaridade do seu filme com o clássico de Fellini tem deixado Sorrentino um pouco incomodado, mesmo não havendo qualquer menção a um possível plágio.
 
Até porque isso de fato não acontece.  A Grande Beleza  é uma versão muito competente de um olhar do passado trazido para os novos tempos.  Essa, no entanto, não é a visão do diretor.
 
“Não acho que haja uma relação entre a época na qual se passa A Grande Beleza  com a que  Fellini mostrou em seu filme”, afirma Sorrentino,  ressalvando que isso não exclui inúmeras influências de outros cineastas em seu trabalho.
 
“Eu tenho internalizado o cinema de todos os diretores que admiro,  o que faz com que meu filme fale de assuntos semelhantes, apenas isso”, diz,  destacando que os mestres do passado deixaram inúmeros ensinamentos para os cineastas de hoje.
 
“Procuro não imitar os grandes do cinema italiano, mas é um erro descabido fazer de conta que esse cinema não existiu. Ele não só existiu como  influenciou e influencia toda a geração atual de diretores italianos”, enfatiza  o diretor napolitano.
 
Sobre isso, Sorrentino lembra que, embora tenha nascido em Nápoles, viveu sua juventude na capital italiana e isso tem muitos reflexos no filme. 
 
“Sempre anotei pequenas lembranças sobre a multidão de coisas ligadas a Roma e a ideia era que todas essas memórias acabassem por formar um filme”, explica  Sorrentino, que  espera uma boa receptividade para o longa, principalmente considerando o viés universal da história.
 
“Acho que La Grande Bellezza tem uma clara vocação internacional porque os personagens têm problemas enfrentados pelas pessoas em qualquer lugar do mundo”, ressalta.
 
Servillo, por sua vez, manifesta sua plena concordância com Sorrentino sobre a diferença entre os dois filmes.
 
“A linguagem dele faz referência aos diretores de antigamente, mas enquanto La Dolce Vita mostra uma Itália com esperança e entusiasta, La Grande Bellezza é centrado em gente que vive com frivolidade em uma cidade que simboliza as ocasiões perdidas e tudo isso com um tom melancólico”, declara  o ator definindo seu personagem.
 
“O protagonista é uma testemunha do mundo e através de sua biografia representa uma história, a das pessoas que perderam alguma coisa e que tratam de recuperá-las”, conclui.
 

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