A VINGANÇA COMO PANO DE FUNDO
     
 

Myrna Silveira Brandão

PUBLICADA EM 14.01.17


 O diretor sul-coreano Park Chan-wook conquistou um público, que se mantém cativo, desde que apresentou sua trilogia sobre a vingança (Simpathy for Mr. Vengeance, 2002), (Old Boy, 2004), (Sympathy for Lady Vengeance, 2005).
 
Assim, “A Criada”, seu novo filme – que agora chega ao circuito nacional – era aguardado com expectativa.
 
O longa é um thriller erótico, adaptado do romance “Na ponta dos dedos” da escritora galesa Sarah Waters, mesma autora do livro que inspirou a minissérie britânica Toque de Veludo (Tipping the Velvet, 2002) e o filme Afinidade (Affinity, 2008), todos de temática lésbica e passados na Inglaterra vitoriana.
 
Park manteve o enredo, mas avançou algumas décadas, mudou a locação e alterou a etnia das personagens. Ambientada na Coreia nos anos 1930, durante o período de domínio colonial japonês, a trama segue Sook-Hee, que mora num cortiço e se vê envolvida num elaborado golpe planejado por um vigarista profissional.
 
O trapaceiro consegue empregar a jovem órfã como criada na casa de uma família japonesa rica, esperando que ela convença Lady Hideko, herdeira de uma fortuna, a casar-se com ele.  Ele não contava, no entanto, que as duas mulheres se tornariam amantes.
 
Quando o golpe falha, o filme adentra a  área, em que Park Chan-wook é especialista: a vingança.  Juntas, as duas mulheres traçam um plano sangrento contra os homens que tentaram destruí-las. 
 
Chan-wook defende o lesbianismo explícito no seu filme dizendo que evitar o sexo seria como fazer “um filme de guerra, sem cenas de batalha”.
 
“É claro que o amor entre estas duas mulheres é o elemento chave do filme. Na interpretação deste amor, não há maneira de contornar o ato que surge a partir da emoção e do desejo”, atesta.
 
Chan-wook é um dos diretores mais inovadores do cinema surgidos ultimamente. Ele não poupa seus personagens nem está preocupado em que eles despertem empatia ou identificação nos espectadores.
 
Para ele, face ao desenvolvimento da civilização e ao acesso à educação, as pessoas podem até dissimular a raiva, mas não significa que as emoções vão embora. Pelo contrário, elas podem crescer, e é normalmente o que acontece.  
 
O diretor ressalva, no entanto,  que a vingança nem sempre satisfaz ao vingador, ao contrário pode causar mais dor e sofrimento. 
 
“Mas normalmente a pessoa não consegue deixar de buscá-la, as pessoas são assim”, afirma.
 
Chan-Wook acha  que o sucesso que os filmes da Coréia do Sul têm feito ultimamente no ocidente se deve ao fato deles retratarem aspectos da rígida sociedade sul-coreana.
 
 “Existe uma energia nos filmes coreanos  que normalmente não é encontrada no cinema de  outros países”, ressalta o diretor, que estreou no cinema em 1992 com A Lua é o Sonho do Sol.
 
Chan-Wook é muito popular no seu País, onde um de seus filmes “Joint Security Area”, de 2000 – sobre amizade entre soldados dos dois lados da fronteira nas Coreias do Norte e do Sul – teve uma das maiores bilheterias do cinema sul coreano.
 

Imprimir
 
   
  Seja o primeiro a comentar esta matéria (0) Comentário  
   
   
  Voltar