UMA ESTREIA PROMISSORA
     
 

Carlos Augusto Brandão

PUBLICADA EM 17.03.17


Parceiro constante de Jacques Audiard – como roteirista de “O Profeta”, “Dheepan” e outros –   Thomas Bidegain tem uma estreia auspiciosa na direção com “Les Cowboys”.
 
Depois de passar por Cannes e Toronto, o filme - que teve uma ótima receptividade na 53ª edição do Festival de Nova York- chega ao circuito. 
 
A história segue Alain (François Damiens) e a busca por sua filha que repentinamente desapareceu. Na medida em que os anos passam e as pistas vão enfraquecendo, a procura se torna obsessiva, principalmente depois que ele sabe que ela foi levada por seu namorado muçulmano.
 
É inevitável a imediata associação de “Les Cowboys” com  “Rastros de Ódio” (1956), mas fica claro que não se trata de uma imitação e sim de uma inspiração.  O filme de Bidegain afasta-se do clássico de John Ford ao assumir proporções épicas no Afeganistão pós 11 de setembro.
 
Na coletiva com a imprensa no NYFF,  Bidegain contou que estava trabalhando em outro projeto quando um  amigo lhe falou sobre as comunidades rurais e  a oportunidade de fazer um faroeste lá.
 
“Conversando com Noé (Debré, co-roteirista do filme), nós inicialmente pensamos em fazer um remake ou uma adaptação, Mas quando a gente está com uma ideia em mente, os personagens nascem. Escrevi alguma coisa, voltei a falar com ele, daí fizemos um documento curto de seis páginas, fui a um produtor e o filme aconteceu”, detalhou o diretor, complementando que foi muito bom trabalhar com Debré.  
 
“Ele é um grande escritor.  Todas as vezes que eu trabalhei com Jacques (Audiard), foi sempre um trabalho conjunto, que continuava durante a filmagem.  Pedi para Noé fazer exatamente como eu fazia com Jacques e ele fez isso por mim”, reconheceu Bidegain, sem deixar de destacar a importância da função do roteirista.
 
“Nos EUA onde a política de autores é menos enraizada que na França, há muitos roteiristas que se tornam diretores. Um deles, Charlie Kauffman  costuma dizer que o roteirista é o inventor completo do filme. O diretor interpreta o script, os atores interpretam o roteiro, todo mundo precisa seguir o roteiro”, ressaltou.
 
Falando sobre o elenco, explicou a razão da escolha do belga  Damiens para ser o protagonista.
 
“Eu precisava de uma espécie de John Wayne e, na maior parte das vezes, atores franceses tem uma pequena compleição, era necessário alguém que pudesse usar um chapéu de cowboy”, brincou Bidegain, que também incluiu no elenco o ator John Reilly, no papel de um empreiteiro americano. 
 
“Ele é um ator raro, que pode fazer comédia ou drama e ser sempre comovente.  Curiosamente não foi difícil convencê-lo.  Enviei um e-mail e ele respondeu confirmando que poderia estar no filme.  Recentemente, John  me disse que está disposto a continuar trabalhando com cineastas europeus”, revelou.
 
Bidegain  não está certo quanto ao futuro em termos de continuar como roteirista ou investir na direção.
 
“Na verdade, eu gostaria de escrever para mim e para os outros.  Jacques diz que roteiro é uma vocação, dirigir é um estado de ser”, lembrou Bidegain, que acha muito positivo o fato de estrear na direção já com uma razoável experiência na área cinematográfica.
 
“Ter a chance de dirigir um filme mais tardiamente ajudou bastante, inclusive pelo fato de eu estar menos virgem do que a maioria dos cineastas de primeira viagem.  Além disso, eu não sentia necessidade de estar no centro das atenções, estava muito confortável como um roteirista”, afirmou.



 

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