GHOST STORY PSICOLÓGICO
     
 

Myrna Silveira Brandão

Publicada em 17.03.17


Olivier Assayas é um diretor frequente  e sempre aplaudido no Festival de Nova York onde já esteve  em 1998 com “Fim de Agosto, Início de Setembro”, em 2004 com “Clean”, em 2010 com  “Carlos” e  em 2014 com “Acima das Nuvens”.  
 
Por isso, “Personal Shopper” era aguardado com expectativa, mas desta vez seu novo filme não teve a mesma boa receptividade e recebeu apenas palmas protocolares ontem na prévia para a imprensa.
 
Essa rejeição de público e crítica já tinha acontecido em Cannes, onde concorreu à Palma, embora o cineasta francês tenha saído de lá com o prêmio de melhor diretor dividido com Cristian Mungiu por Bacalaureat.
 
Em Personal Shopper - que agora chega ao circuito -  ele volta a trabalhar com Kriswten Stewart e o elenco inclui ainda Lars Eidinger, Anders Danielsen Le, Nora von Waldstatten, Benjamin Biolay, David Bowles e Benoit Peverelli.
 
O filme segue Maureen (Stewart), que trabalha como assistente de uma celebridade (Waldstatten) sendo encarregada de fazer suas compras pessoais de roupas e joias. Ainda vivendo o luto pelo falecimento súbito do seu irmão gêmeo, ela, que se diz médium embora não acredite em vida após a morte, insiste em morar em Paris a fim de esperar algum sinal do espírito do rapaz.
 
As sequências envolvendo espíritos são assustadoras, a andança de Maureen pelo casarão escurecido é tensa e o momento no qual a moça recebe uma sequência de mensagens acumuladas, indicando a aproximação de uma ameaça, é angustiante.
 
 
O diretor conduz a história no seu conhecido estilo de ir costurando situações no cotidiano dos personagens, ao tempo em que vai mostrando os dramas existenciais provocados pelas relações entre as pessoas e as inevitáveis transformações da vida.
 
Assayas é um bom diretor de atores e o elenco desempenha com louvor seus esquemáticos personagens, mas fora isso, o filme aparenta estar em busca de uma história para contar. Nem Stewart, ótima no papel, consegue salvar este misto de  ghost story com drama psicológico.  
 
Na coletiva após a projeção, Assayas falou sobre Personal Shopper, sobre a escolha do elenco e sobre sua predileção por fazer filmes inusitados. Leia os principais trechos:
 
Por que decidiu trabalhar novamente com Stewart?
 
Sentia que ela ainda não tinha explorado, nos filmes, uma dimensão completa de sua personalidade e acho que acertei. O que é interessante para mim é o fluxo entre o ícone e o ser humano”.
 
A opção por produções internacionais influiu na forma como realiza seus filmes?
 
“Minha maneira de filmar não muda, conforme quem está financiando o filme. No caso, um ponto importante foi poder trabalhar com atores estrangeiros e rodar cenas em vários idiomas. Na maior parte das vezes, para ter ajuda pública, um filme deve ter elenco e idioma nacionais”.
 
Isso ajuda na obtenção de recursos para outras produções?   
 
“Seria difícil produzir Personal Shopper apenas com capitais franceses. O que escrevo é um pouco inusitado comparado com os critérios da indústria cinematográfica. Isso tem ajudado não só na busca de financiamento para os próximos filmes, mas  também na composição do elenco”.
 
Por que a predileção por fazer filmes inusitados?
 
“Entendo o cinema como arte e não como uma forma de comunicação que deva se preocupar apenas com a informação e repetir coisas que já foram ditas e vistas”. 
 
Qual o principal retorno disso?
 
“Nos EUA, especialmente desde o sucesso de L’Heure d’ Été (Horas de Verão, 2008) e Carlos (2010), ganhei uma notoriedade relativa, criando um atalho que aguça a curiosidade de alguns atores. Essa forma, sem território definido me agrada muito, ninguém me incomoda”.
 

Imprimir
 
   
  Seja o primeiro a comentar esta matéria (0) Comentário  
   
   
  Voltar