Nas Telas - QUANDO A ARTE IMITA A VIDA
     
 

Myrna Silveira Brandão



Filme de Valeria Bruni chega ao circuito.

A diretora Valeria Bruni Tedeschi é ítalo-francesa, estreou como atriz em 1987 em Hotel da França, de Patrice Chéreau. Depois de trabalhar com diretores renomados como François Ozon, Steven Spielberg e outros, passou para trás das câmeras e em 2007 ganhou o Prêmio especial do júri em Cannes com o filme Atrizes.

No passado, sua família deixou a Itália e foi para a França. Valeria é irmã da modelo e ex-primeira dama francesa Carla Bruni e perdeu um irmão vítima de complicações da AIDS.

Muito dessa história é contada em Um Castelo na Itália (Un château en Italie), seu novo filme, que estreia no circuito brasileiro.

Conforme descrito nas notas de Valeria para o filme, embora não se trate de uma autobiografia, é uma história inspirada, em grande parte, em episódios da vida da sua própria família.

As pessoas com quem ela escreveu o roteiro – Noémie Lvovsky (Camille outra vez) e Agnès de Sacy – também são suas parceiras em trabalhos anteriores.

O filme gira em torno de Louise (interpretada pela própria diretora) – uma atriz da aristocracia italiana aposentada há alguns anos – que inicia um romance com Nathan (Louis Garrel), um jovem ator com quem gostaria de ter um filho.

Sua mãe (vivida por Marisa Borini, mãe de Valeria na vida real), pretende vender seus bens para resolver a situação financeira da família, enquanto Ludovico (Filippo Timi), o irmão de Louise, está gravemente doente num hospital.

A caracterização dos personagens é inteligente, o tom é bem humorado, mas os temas são sérios e profundos: família, amor, casamento, doença, morte..., tudo que faz parte da vida e, em sua maioria, são inevitáveis. O cenário denso, enérgico e delicado reflete a emoção que acaba contagiando a plateia.

Valeria diz que o viés burlesco ajuda a manter o equilíbrio entre dor e humor da trama.

"Se a gente arranhar a superfície de situações da vida, veremos que o burlesco não está distante. Para mim, um dos propósitos de um ator é descobrir o seu palhaço interior e em Un Chateau... todos os atores fizeram isso. Era uma enorme diversão", revela, acrescentando que considera sua personagem um pouco desajeitada, mas que gosta dessa noção de desequilíbrio.

"Lembro-me das lições de Jacques Lecoq (fundador da École Internationale de Théatre), quando ele nos pedia para apoiar em apenas uma perna. O próprio fato de ficar desequilibrada leva a movimentos interessantes. Enfim, desequilíbrio cria performance", ressalta a cineasta, formulando uma definição para seu filme.

"É muito mais uma história de família do que uma história de amor", diz Valeria, que dedica seu filme para Virgilio, o irmão morto em 2006.

Falando sobre a natureza autobiográfica dos filmes de Valeria, Garrel diz que é muito bom quando lê um roteiro e pode dizer: este sou eu.

"Durante muito tempo, os filmes que não eram pelo menos um pouco autobiográficos, não me interessavam. Eu preciso de filmes que me façam querer viver, verdadeiros! Quando a coisa é muito artificial, eu não gosto e acabo ficando estressado", afirma o ator, complementado por Lvovsky:

"Valeria deixa espaços para a reinvenção. Ludovic, o personagem interpretado por Filippo, por exemplo, tem um relacionamento com cada uma das mulheres que o cercam – o que não estava no script inicial – mas, de alguma forma, fez tudo ficar maior", detalha a roteirista com a concordância do ator.

"Ela é uma diretora muito talentosa e lhe leva para ver coisas que você não quer ver", completa.