Nas Telas - A INFÂNCIA SEGUNDO LINKLATER
     
 

Myrna Silveira Brandão

PUBLICADA EM 10.08.14


 
Boyhood – Da Infância à Juventude,  de Richard Linklater, foi um dos concorrentes ao Urso de Ouro na edição 2014 do Festival de Berlim.
 
Vindo do Sundance onde foi lançado, o filme era um dos mais aguardados títulos da Berlinale e deu a Linklater o Urso de Prata de melhor diretor.
 
Autor da trilogia  Antes do Amanhecer , Antes do Por do Sol e  Antes da Meia Noite, Linklater mantém em Boyhood, sua marca de capturar histórias em curso, fundindo narrativas com a passagem do tempo.  
 
Durante anos, conhecida apenas como Projeto 12 anos, a produção começou em Houston, no verão de 2002.  Filmado ao longo de períodos curtos, o filme é uma experiência cinematográfica inovadora que abrange 12 anos da vida de uma família.
 
A história segue Mason (Ellar Coltrane), filho  de um casal divorciado (Ethan Hawke e Patrícia Arquette), que com sua irmã Samantha (Lorelei Linklater, filha do diretor) ) é levado em uma jornada transcendental ao longo dos anos, desde a infância até a idade adulta.
 
Linklater elencou Coltrane quando ele tinha apenas 6 anos de idade. Todos os anos, ele reunia o elenco para filmar um novo capítulo da vida do menino. O resultado final dessa saga foi  comprimido no filme de 164 minutos. 
 
Na coletiva com a imprensa em Berlim, Linklater –  que chegou acompanhado dos atores Coltrane e Lorelei  –    falou sobre a produção do filme.  
 
“É uma narrativa e não um documentário, sobre um garoto crescendo e foi filmado em pedaços durante longo tempo”, narrou  o diretor, contando que tinha acabado de fazer Waking Life, quando resolveu escrever um filme sobre a infância. Mas ficou travado pelas limitações cinematográficas e pela dificuldade de lidar com o tempo necessário para contar sua história.
 
“Eu realmente não tinha os elementos suficientes naquele momento, então pensei se não poderíamos simplesmente filmar aos poucos e depois englobar tudo.  Levei a ideia para Hawke (colaborador frequente do diretor) e ele disse que era uma ideia meio louca mas estava dentro contou Linklater,  que desde o início tinha uma história em mente, mas ela precisou evoluir para acompanhar também a evolução das duas crianças.
 
“A estrutura de toda a história foi bem elaborada, isto é,  lá pelo segundo ano, eu já sabia a última tomada do filme. Mas eventualmente  eu precisava ir para onde as crianças iam. Em algum ponto, eu acho que a concepção inicial dos dois personagens começou a se fundir com aquilo que eles realmente eram, explicou o diretor acrescentando que  inicialmente Lorelei experimentou alguma ambivalência no seu envolvimento com o filme, mas no final acabou tendo uma boa experiência.
 
“Lembro que quando o projeto estava em torno dos três primeiros anos ela me perguntou se seu personagem poderia morrer”, revelou Linklater, provocando muitos risos na plateia.
 
Para  Coltrane – embora tenha levado algum tempo para entender do que exatamente ele estava fazendo parte – tudo era ao mesmo tempo surreal, mas estranhamento normal.
 
“O personagem começou a nascer em mim gradualmente, bem como o que realmente estava acontecendo. Num certo momento, quando eu tinha uns 12, 13 anos, eu comecei a compreender qual era o escopo do projeto e aí ele mudou a partir desse  ponto”, disse o ator, hoje com 19 anos.
 
Linklater  agora tem um histórico para revisitar os personagens como fez com Jesse e Celine na sua trilogia  “Antes...” .   E a pergunta inevitável é se poderá haver uma continuidade similar com Mason e sua família cinematográfica. 
 
Linklater diz que nem sequer conversou com a equipe sobre isso, deixando  uma dúvida no ar e uma definição para Boyhood.
 
“Eu estava tentando capturar como o tempo trabalha na vida das pessoas. É um filme sobre a infância, sobre paternidade, sobre tudo”, resumiu.