Nas Telas - UM FILME SOBRE TUDO
     
 

Carlos Augusto Brandão

PUBLICADA EM 30.10.14


Boyhood, de Richard Linklater, iniciou sua vitoriosa carreira no Sundance, onde o diretor tem cadeira cativa desde Waking Life, que fez um enorme sucesso no evento independente. 
 
De lá, foi um dos selecionados para a mostra competitiva da Berlinale 2014,  era um dos favoritos ao prêmio máximo do festival e deu a Linklater o Urso de Prata de melhor diretor.
 
O filme – que agora chega ao circuito brasileiro –  segue a característica de Linklater de capturar histórias em curso, fundindo narrativas com o tempo, como fez em sua famosa trilogia Antes do Amanhecer, Antes do Por do Sol e  Antes da Meia Noite.
 
As filmagens começaram em Houston no verão de 2002 e, durante anos o filme ficou conhecido apenas como Projeto 12 anos.  Filmado ao longo de períodos curtos, a obra  é uma experiência cinematográfica inovadora que abrange 12 anos da vida de uma família.
 
A história é centrada em Mason (Ellar Coltrane)  que, com sua irmã Samantha (Lorelei Linklater, filha do diretor), é seguido desde a infância até a idade adulta. Ele são filhos  de um casal divorciado (Ethan Hawke e Patrícia Arquette). 
 
Quando as filmagens começaram Coltrane tinha apenas 6 anos de idade, hoje tem 19. Todos os anos, Linklater  reunia o elenco para filmar um novo capítulo da vida do menino, que resultou no filme de 164 minutos concluído agora.
 
Na coletiva em Berlim,  Linklater –  que chegou acompanhado dos atores  – começou esclarecendo que o filme não é um documentário e sim uma narrativa que segue o crescimento de um garoto.   
 
“Estivemos um longo período de tempo fazendo esse filme e ele foi realmente filmado em pedaços ao longo de 12 anos”, detalhou o diretor, contando que logo após ter realizado Waking Life, resolveu escrever um roteiro sobre a infância, mas naquele momento, não tinha os elementos suficientes para dar continuidade. 
 
“Eu fiquei travado pelas limitações cinematográficas e pela dificuldade de lidar com o tempo necessário para contar a história, então pensei se não eu poderia filmar aos poucos e depois consolidar tudo”, revelou o diretor, que resolveu então  levar a ideia para Hawke, seu colaborador frequente.
 
“Conversamos num café em Nova York e quando eu terminei de expor o projeto, ele  me disse que era uma ideia meio louca, mas topou de imediato”, contou. 
 
Linklater explicou que desde o início tinha uma história em mente, mas ela precisou evoluir para acompanhar também a evolução das duas crianças.
 
“A estrutura de todo o filme foi bem elaborada e em torno do segundo ano, eu sabia a última tomada do filme, embora tivesse sido necessário acompanhar o caminho que as duas crianças seguiam. Mas eu acho que, em algum ponto,  a concepção inicial dos personagens começou a se fundir com aquilo que eles realmente eram”, contou revelando que Coltrane levou algum tempo para entender exatamente do que ele estava fazendo parte.
 
“A impressão que tenho é que para ele tudo era muito normal e somente quando estava com uns 12, 13 anos, é que começou a entender de fato o escopo do projeto”, disse.
 
Lorelei também experimentou alguma ambivalência no seu envolvimento com o filme.
 
“Lembro que quando o projeto estava em torno dos três primeiros anos ela me perguntou se seu personagem poderia morrer. Sei que é  até um pouco cruel manter uma criança de 9 anos de idade, num contrato de 12 anos, mas no final ela acabou tendo uma boa experiência com o filme”, afirmou.
 
Linklater não escapou da pergunta que não quer calar:  ele agora tem um histórico para revisitar os personagens novamente como fez com Jesse e Celine na sua trilogia  “Antes...” .
Poderá haver uma continuidade similar com Mason e sua família cinematográfica?
 
“Nós nunca sequer conversamos sobre isso, pelo menos eu acho que nunca... “, despistou o diretor, deixando uma dúvida no ar e uma definição para Boyhood.
 
“É um filme sobre a infância, sobre paternidade, sobre tudo”, resumiu.