Nas Telas - UMA VIDA DEDICADA AO CINEMA
     
 

Carlos Augusto Brandão



O Estranho Caso de Angélica, do diretor português Manoel de Oliveira, de 105 anos, o mais antigo cineasta ainda em atividade, chega ao circuito brasileiro, embora com atraso de dois anos. Antes tarde do que nunca.

O filme, que abriu a mostra Um Certain Regard em Cannes/2011, é um tributo à efemeridade da matéria e à perenidade da alma. Durante todo o desenrolar da história, há uma espécie de confronto da modernidade versus tradição, uma das preocupações do diretor.

Estrelado por Ricardo Trêpa, neto e ator constante nos trabalhos de Oliveira, o filme é a história de Isaac, fotógrafo judeu e um dos hóspedes de uma pensão num estilo chegado ao medieval.

Uma noite, ele é chamado às pressas por uma senhora (Leonor Silveira, também mais uma vez num filme do diretor), que lhe faz um pedido muito estranho: Angélica, sua filha (Pilar Lopes de Ayala) que acabara de se casar e possivelmente estaria grávida, havia morrido e ela gostaria que Isaac tirasse as últimas fotos da morta.

Ao enquadrar a imagem da jovem, ele vê no visor Angélica sorrindo para ele. A partir de então fica possuído pelo mistério da moça e começa a ser acometido por visões sobrenaturais, acentuadas pela paixão que passa a sentir por ela.

"A morte é a única condição absoluta que temos na vida, morrer é uma certeza", atesta o veterano diretor, que não gosta de fazer previsões sobre seus próximos projetos.

"Não sei dizer o que farei mais adiante. Nunca sabemos o que o destino nos reserva", ressalta o cultuado cineasta, que tem um documentário preparado desde 1982 – com o título provisório de Memórias e Confissões – mas que, segundo sua expressa orientação, somente poderá ser concretizado após sua morte.

O incansável Oliveira, no entanto, autor de mais de 60 trabalhos, não para e vem realizando uma média de dois filmes por ano.

Além de suas produções individuais, em 2007 ainda encontrou tempo para integrar o projeto coletivo Cada um com seu Cinema, que reuniu 33 diretores e teve a participação de Walter Salles, com A 8944 km de Cannes. Oliveira participou no segmento Rencontre Unique.

O Estranho Caso de Angélica traz no elenco a brasileira Ana Maria Magalhães, no papel de Clementina, uma engenheira, e é coproduzido por Leon Cakoff (falecido em 2011) e Renata de Almeida, diretora da Mostra de São Paulo, onde Oliveira tem marcado presença em algumas edições.