Nas Telas - ABELHAS, SONHOS E REALIDADE
     
 

Carlos Augusto Brandão

PUBLICADA EM 18.04.15


As Maravilhas, de Alice Rohrwacher –  que agora chega ao circuito – recebeu o Grande Prêmio do Júri em Cannes e foi um dos destaques do Festival de Nova York.
 
O filme, que segue o cotidiano de uma família de apicultores de uma zona rural da Itália,  é uma fábula moderna sobre as alegrias e as dores de fazer parte de uma família de apicultores que mal sobrevive negociando mel. 
 
A história é centrada em Gelsomina (Alexandra Lungu) – a mais velha de quatro irmãs que vivem sob as rígidas regras do pai (Sam Louwich) – e que vê num concurso de tevê a chance de escapar daquele mundo.  
 
Para descrever as maravilhas, metáforas e os simbolismos do seu filme, Rohrwacher conta que ajudou muito ter nascido numa cidade da Toscana.
 
“É uma região que tem muita história e eu queria falar sobre o sentimento do que é viver encravado na tradição, principalmente da situação dos jovens”, diz, definindo o que entende pelo tema do seu filme:
 
 “Maravilha é algo que nos deixa sem voz, que se situa entre o mundo terrestre e o fantástico e está em muitos momentos do filme:  está nos cenários, nas famílias que ainda resistem, na luz, nos segredos de infância, nas abelhas, enfim em tudo que é belo e significativo”. 
 
A escolha de uma família de apicultores para retratar os personagens não foi aleatória, já que deriva de uma vivência pessoal da diretora.
 
“Quando era mais jovem, eu trabalhei como apicultora. Talvez conheça mais as abelhas do que as pessoas e por isso, além de retratá-las, tive muito cuidado, fiquei atenta ao que a ambiência local poderia me fornecer”, acrescentando que o elenco foi selecionado através de testes e exercícios de laboratórios.
 
“Tivemos um período em que os jovens só trabalhavam com as abelhas. A mãe de uma das meninas chegou a me dizer que isso era bom, porque se o filme não acontecesse, sua filha, de qualquer maneira, poderia ser apicultora”. 
 
Rohrwacher esclarece que embora A Estrada da Vida, de Federico Fellini, seja um dos seus filmes preferidos, não foi dela a ideia de colocar na protagonista o nome de Gelsomina, a  inesquecível personagem vivida por Giullieta Masina no clássico de 1954 do diretor italiano.
 
“O nome foi dado pelos pais da garota. Se houve homenagem, partiu deles. Isso é uma prova como  pessoas simples também possuem cultura”, ressalta a diretora concordando que a tevê é praticamente um personagem na trama.
 
“A TV está  muito presente na vida dos italianos e faz parte do  mistério das maravilhas que falo. Além disso, para essas pessoas simples, estar na TV e no programa de Milly Catena, por exemplo,  pode ser maravilhoso,, avalia a talentosa diretora de 32 anos.