Nas Telas - OS DRAMAS DO COTIDIANO
     
 

Carlos Augusto Brandão

PUBLICADA EM 23.07.15


Os filmes de Mike Leigh poderiam começar com o “Era uma vez.........” das muitas histórias universais contadas através dos séculos.  Como ele mesmo define, seus filmes reproduzem na tela a vida em todas as suas nuances e dimensões. Isso mais uma vez acontece em seu novo trabalho Um Ano Mais, que chega ao circuito com certo atraso.

“O filme corresponde a essa minha vontade de falar sobre as pessoas e narrar  situações, inspiradas na própria vida, que qualquer ser humano poderia passar em qualquer lugar. Eu me considero um contador de histórias, o cinema que cria outros mundos não me interessa”, explica Leigh.

O diretor inglês de filmes como Segredos e Mentiras, Vera Drake e Simplesmente Feliz, diz que o cerne são os fatos da vida. Em todos eles, tem mantido seu inconfundível estilo de retratar dramas similares à realidade e inerentes ao cotidiano das pessoas.

Um Ano Mais é um drama de tons cômicos em torno de um tranquilo casal de meia-idade – o geólogo Tom (Jim Broadbent) e a psicóloga Gerri (Ruth Sheen) – e as estranhas figuras do seu círculo social.

Embora focado na cultura inglesa, a abrangência vai muito além de uma cidade e mesmo de um país.

“Minha preocupação em ficar velho é a de não ter tempo de contar todas as histórias que gostaria de narrar. Para  mim, a fonte delas  é inesgotável, costuma dizer o diretor, que assume algo de biográfico em Mais um Ano. 
 
“É um filme sobre a vida em todos os seus aspectos: solidão, casamento e perdas, são assuntos com os quais as pessoas  de todas as gerações se identificam e não deixa de refletir as preocupações que me afligem”, revela.

O ótimo  desempenho de Broadbent, que já  tinha trabalhado em Topsy Turvy e em Vera Drake, destaca também o mérito de Leigh como um ótimo diretor de atores e entusiasta do trabalho deles.

“Roteiro e realização são fases importantes do meu trabalho e não faço diferença entre uma e outra. Mas o elenco, sim. No desenvolvimento do trabalho, filmamos uma cena, fazemos um intervalo para conversamos, analisamos o que deve ser mudado... Depois filmamos outra cena, e assim vamos seguindo e tem funcionado”, explica Leigh que, discorda como tem sido comentado, que a história funcionaria melhor no teatro.

“Já ouvi comparações do meu filme com peças de alguns autores teatrais, mas  acho que Um Ano Mais só tem sentido nas telas”, ressalta. 

Um dos pontos altos são os diálogos trocados entre o casal com seus amigos e familiares, entre eles  a secretária Mary, também um excelente desempenho de Lesley Manville. Mary é uma sexagenária, que busca na bebida um refúgio para a solidão.

O filme foi um dos destaques do Festival de Nova York 2010.  Presença constante num evento que não tem premiação, Leigh destaca que isso não é o mais importante.

“Não venho a festivais por causa da premiação. Além de celebrar o cinema, os eventos  permitem o encontro entre o público e os realizadores e também ajudam na carreira do filme”, analisa.