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Nas Telas - O CANTO DO CISNE DE UM ENGAJADO CINEASTA |
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Carlos Augusto Brandão
PUBLICADA EM 07.08.15
Será mesmo Jimmy’s Hall o filme de despedida de Ken Loach? Embora seus admiradores esperem o contrário, o cineasta britânico vem acenando com sua aposentadoria, mas alguns sinais denunciam que ela não é ainda uma ideia definitiva.
Seu novo filme – que agora chega ao circuito brasileiro – foi um dos destaques do Festival de Nova York. A sessão lotada não era apenas pela eventual aposentadoria, mas porque Loach tem uma legião de admiradores aqui desde 1998 quando lançou Meu Nome é Joe, que o projetou internacionalmente.
Jimmy’s Hall – que concorreu à Palma de Ouro no último Festival de Cannes – é um drama baseado na história real de Jimmy Gralton (Barry Ward), único irlandês expulso do seu próprio país por recusar um acordo com a poderosa Igreja Católica na década de 1930. A Instituição pedia a extinção de um centro comunitário levantado por Jimmy em suas terras.
O filme mostra uma Irlanda (e a Igreja) temendo um novo levante violento após a guerra da independência.
Jimmy poderia ser a fagulha comunista dessa nova explosão ao reformar um centro comunitário para ensinar lá literatura, boxe e dança.
“É um centro com adolescentes lendo poemas e dançando. Algo bastante “perigoso”, brincou o cineasta – na coletiva após projeção no último Festival de Nova York – deixando no ar uma dúvida sobre sua aposentadoria.
“Declarei isso em um momento de muita pressão. A montanha à nossa frente, durante a realização desse filme era muito alta. Desejei não ter que passar por uma experiência como aquela novamente. Mas vamos ver o que o tempo me reserva”, declarou Loach, de 76 anos.
Loach retoma o tema da luta do indivíduo contra instituições opressoras, recorrente em sua carreira, depois de há dois anos ter surpreendido os espectadores com uma comédia, o hilariante A Parte dos Anjos, que ganhou o Grande Prêmio do Júri no Festival de Cannes.
Embora diferente dos dramas sombrios do diretor, o filme não deixava, no entanto, de abordar as estratégias que pessoas excluídas precisam adotar para sobreviver numa sociedade que as rejeita e que Loach sempre expressa com realismo e é uma tônica forte na sua obra.
“Eu venho de um meio operário, é o mundo que conheço e me interessa retratar, seja numa tragédia ou numa comédia, por isso batalho para que os atores pareçam reais para o público. É esse o meu prazer, trabalhar com gente como a gente”, afirma complementando que o cinema reflete o que está ocorrendo no mundo.
“Ele retrata e influencia os fatos. No meu filme Kes, de 1970, por exemplo, o protagonista era um rapaz que tinha um emprego. Em A Parte dos Anjos, Robbie é um desempregado como está acontecendo hoje com muitos jovens. Infelizmente, da última década para cá, houve um retrocesso”, lamenta o consagrado diretor de 76 anos, que em boa hora, recebeu o Urso Honorário no último Festival de Berlim.
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