Nas Telas - PERSONAGENS COMPLEXOS E SOLIDÃO
     
 

Myrna Silveira Brandão

PUBLICADA EM 03.02.16


 
A polonesa Malgorzata Szumowska ganhou com Body  o Prêmio de melhor diretora da 65ª edição do Festival de Berlim.
 
O filme – que agora chega ao circuito – marcou também seu retorno à Berlinale onde ganhou em 2011 o Teddy Award com In the Name of.
 
Em sua obra, Szumowska tem mantido o foco em personagens complexos e críveis e em assuntos  sensíveis de fundo social : hipocrisia religiosa, persistência da homofobia das comunidades conservadoras e até a ocasional condescendência de poloneses de mente liberal.
 
A história de Body segue um investigador da polícia, dividido entre sua profissão e o drama de uma filha anoréxica. 
 
Ele tem 65 anos, sua mulher morreu num acidente de carro e ele passa a maior do tempo no trabalho. Sua vida é solitária, sua filha está doente há vários anos e ele a mantém num hospital psiquiátrico, onde trabalha Anna, uma terapeuta de 44 anos e sua única amiga. Por tudo isso, teme um dia não ter ninguém para cuidar dele, como vê casos todos os dias no seu trabalho.
 
Body é o sexto longa-metragem de Szumowska e –  como In the Name Of –  é um retorno às suas raízes após trabalhar em Paris com Elles, no qual Juliette Binoche faz o papel de uma jornalista que faz reportagens com prostitutas. 
 
Mas o tema recorrente da diretora  se aplica tanto ao trabalho com estrelas famosas e filmagens internacionais, quanto nesse seu novo projeto, mais restrito à Polônia sobre homens e mulheres solitários e suas relações tanto físicas quanto espirituais.
 
“Cada personagem luta com seu corpo  e com  tudo na católica Polônia, tentando reconciliar suas coisas com o “corpo de Cristo”, explica Szumovska, sobre esse seu projeto mais intimista.
 
“A cada filme, vou encontrando coisas novas.  Além disso, o  sucesso de Elles no circuito de festivais, me deixou mais confortável em trabalhar agora com um orçamento pequeno, de menos de um milhão de euros, com um elenco polonês e recursos locais”, conta. 
 
O orçamento limitado, contudo, foi complementado por patrocínios do seu país e parcerias.
 
“O filme foi apoiado pelo Instituto Polonês do Filme e pela HBO.  Isso possibilita que a gente possa fazer o que quer, as pessoas dão liberdade”, reconheceu a diretora de 43 anos, nascida na Cracóvia e um nome bastante promissor do novo cinema polonês.