Nas Telas - O ESTILO RECORRENTE DE SANG-SOO
     
 

Carlos Augusto Brandão

PUBLICADA EM 27.05.16


O diretor Hong Sang-soo tem um estilo muito pessoal. Seu estranho cinema nem sempre tem os aplausos da crítica e do público. 
 
Mas alheio a isso e realizando uma média de dois filmes por ano, ele continua contando suas histórias, ao mesmo tempo simples e complexas e, para isso, seu talento é inegável.
 
“Certo Agora, Errado Antes”, novo trabalho do cineasta sul-coreano  – que agora chega ao circuito – segue sua linha recorrente com muitas metáforas e simbolismos.
 
Lançado no Festival de Locarno, onde ganhou O Leopardo de Ouro – e um dos destaques da 53ª edição do Festival de Nova York – o filme tem argumento do próprio diretor e conta no elenco com Jeong Jae-yeong, Kim Min-hee, Yoon Yeo-jeong entre outros.
 
O filme é a história de Cheon-soo, um cineasta que vai à cidade de Suwon apresentar seu filme num festival de cinema.  Como a sessão é adiada para o dia seguinte, ele aproveita a ocasião para passear, acabando por conhecer Hee-jeong, uma artista plástica, que vai mudar o rumo de sua vida.  
 
Uma sequência em que  Cheon-soo é convidado pela artista para ir ao seu estúdio, define a proposta do diretor.  Ele aceita o convite e, na segunda vez que retorna ao estúdio,  há repetição de uma cena em que Hee-jeong  dá uma pincelada num quadro que está pintando. Mas desta vez a cor é verde, enquanto que na primeira era laranja.  A mensagem é clara:  as cores das tintas nas telas, bem como  as pinceladas da vida podem mudar e variar dependendo das situações,  dependendo das possibilidades infinitas de um gesto.
 
Num estilo próximo à  Nouvelle Vague, Sang-soo constrói uma história centrada em causalidade, aleatoriedade e probabilidades. 
 
Leia as declarações do diretor de filmes como “A Visitante Francesa”, “Hahaha”, “Filha de Ninguém” e “Hill of Freedom”.
 
Sobre a opção de realizar filmes tão diferentes
 
“Entre as razões, tento sempre buscar a originalidade. Não me agrada abordar temas muito comuns ou até repetir aqueles que já foram abordados no cinema  quase à exaustão, inclusive por mim”.
 
Sobre o trabalho com o roteiro e sua definição no set
 
“Eu gosto de trabalhar sem um roteiro acabado, por isso nem sempre dou conhecimento prévio aos atores quando os convido para participar do elenco. É claro que preciso apresentar previamente um argumento para o produtor, mas as cenas eu prefiro definir na manhã em que serão filmadas, inspiradas nas coisas que acontecem naquele dia, em momentos que vão surgindo”.
 
Sobre como consegue um tom tão natural dos atores
 
“Acho que isso decorre de um forte trabalho de equipe. Após ter delineado o perfil dos personagens, eu converso com os atores e procuro me inteirar sobre eles: sua vida, seu passado, seus interesses e, se for necessário, reformulo coisas. Não trabalho com ideias imutáveis, filmar é um processo, etapa por etapa”.