Carlos Augusto Brandão
PUBLICADA EM 27.06.2016
As Montanhas se Separam, de Jia Zhang-Ke, trata de questões relacionadas com a China contemporânea, um tema presente na obra do diretor chinês, já visto em trabalhos anteriores como Plataforma, Prazeres Desconhecidos, 24 City e Um Toque de Pecado, entre outros.
Conhecido por trabalhos contemplativos, quase documentais, o cineasta realiza agora o seu primeiro melodrama.
O filme entrelaça três períodos históricos diferentes usando um triângulo amoroso formado por Tao (Zhao Tao), Liangzi (Liang Jin Dong) e Zhang Jinsheng (Zhang Yi) para explorar as contradições do país asiático.
As incongruências sociais são o foco do diretor, que usa diferentes texturas de imagem para construir o visual do filme, incluindo granulações e efeitos de filtros coloridos que distorcem as cenas.
Em seu filme anterior, Zhang-Ke utilizou quatro histórias também para falar da China contemporânea.
O diretor reconhece que tem construído seus filmes no tênue limite entre ficção e realidade.
“Meus filmes têm um componente de ficção, mas com um viés na realidade e no contexto político. Meu objetivo é contar histórias usando todas as linguagens que conheço. Eu procuro controlar todo o processo criativo do meu trabalho: escolho as histórias, escrevo os roteiros, seleciono os atores, enfim, meus filmes refletem minha opinião, meu pensamento e minhas convicções”, afirma enfatizando que sua persistência no tema vem da certeza de que o passado explica o presente.
Narrado num tom documental, o drama torna bastante plausível a análise sociológica que Zhang-Ke faz dos problemas e angústias da população do País.
“A história oficial criou uma falsa imagem da China para todos e também para os próprios chineses na era Mao. Isso continua hoje, porque temos uma censura forte. Os problemas da China contemporânea têm suas raízes nesse passado”, afirma o diretor, que ficou ainda mais conhecido no Brasil após ser tema do excelente documentário – Jia Zhang-ke: um Homem de Fenyang – dirigido por Walter Salles.
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