Nas Telas - PAISAGEM É PONTO ALTO NO FILME COM DEPARDIEU
     
 

Myrna Silveira Brandão

PUBLICADA EM 21.09.16


Mesmo com atores de peso no papel dos protagonistas – Gérard Depardieu e Isabelle Huppert –
“O Vale do Amor”, de Guillaume Nicloux, tem sido recebido com reservas e palmas apenas educadas.
 
Em Cannes, onde concorreu à Palma de Ouro, chegou a ser vaiado por uma plateia que não sentiu qualquer emoção na história, que trata de perdas e ecos sobrenaturais. 
 
O filme parte de um argumento simples sobre um casal separado que inicia uma viagem pelo Death Valley na California seguindo as instruções que seu filho deixou numa carta endereçada a ambos. 
 
Tudo começa com essa carta que os personagens de Isabelle e Gérard recebem seis meses após ele ter se suicidado.
 
“Peço para estarem presentes no Vale da Morte no dia 12 de novembro de 2014. Podem pensar que é uma brincadeira de mau gosto, mas juro que é verdade”, diz ele no texto.
 
A história é uma espécie de road movie em que os protagonistas falam sobre o passado de suas vidas.  Mas nem os personagens nem suas reflexões despertam interesse. É um filme sem pretensões que termina por não chegar a nada. 
 
O roteiro é confuso, desperdiça boas situações ligadas à história e força episódios no qual o personagem de Depardieu, também chamado de Gérard resvala na caricatura do europeu rude.
 
O filme marca o reencontro dos dois consagrados  atores, 41 anos depois de “Corações Loucos”, de Bertrand Blier. E dois anos após “A Religiosa”, dirigido por Nicloux e com Huppert no papel principal.
 
O diretor, autor de dez longas-metragens e quatro séries de televisão, explica a escolha do cenário, que tem sido muito comentado.
 
“Eu conservava, deste lugar, a lembrança de um espaço livre e solitário. Era o terreno ideal para o filme e para o tema do luto”, afirma.
 
Com muitos elogios para Depardieu e Huppert, Nicloux diz que eles eram sua primeira opção.
 
“Eu os queria no filme desde o início, era evidente que os atores de “Valley of Love” teriam que ser eles”, reitera.
 
Para Depardieu, deve ter sido difícil rodar um filme sobre a perda de um filho tendo em conta sua própria experiência pessoal.  Seu filho, Guilhaume, que era também ator, morreu  aos 37 anos de pneumonia em 2008. 
 
Em última análise, além da presença dos dois renomados artistas, o único ponto que salva “o Vale do Amor” do desastre total, é a utilização das belas paisagens desérticas californianas, praticamente personagens da trama.