Nas Telas - O CRIADOR DO ZERO
     
 

Carlos Augusto Brandão

PUBLICADA EM 01.03.14


 
Vidas ao Vento (The Wind Rises), de Hayao Miyazaki, abre com o verso de um  poema de Paul Valéry, onde se lê: O vento está aumentando!... devemos tentar viver!.
 
Mesmo com o tom  poético do seu início, o filme – que chega às telas brasileiras –  vem despertando polêmicas por centrar seu foco no lendário Zero, avião de caça utilizado pela Marinha Imperial Japonesa durante a Segunda Guerra Mundial. 
 
O objetivo do diretor foi resgatar a imagem de Jiro Horikoshi (1903-1982), criador da aeronave, que foi  utilizada em ataques de guerra e operações kamikazes.
 
Miyazaki, considerado o mestre o cinema de animação japonês, tem encantado o mundo em filmes como o mágico e onírico Princesa Mononoke,  e A Viagem de Chihiro, adaptação de um conto de Lewis Carroll , entre outros. 
 
Talvez ou em parte por isso, fãs e admiradores têm criticado o diretor, inconformados que temas de fantasia como os exemplificados cedam lugar para falar do construtor de um avião, que acabou se transformando numa arma de guerra.
 
O diretor afirma que quis apenas  retratar a vida de Horikoshi sem fazer julgamentos de valor.
 
“O talento extraordinário de Jiro Horikoshi protagonizou o estado da arte em aviões de combate. O Zero foi contemporâneo do Hayabusa, operado pelo Exército Imperial Japonês. A diferença era  que o Zero estava armado mais fortemente e, quando voaram juntos, ele foi mais rápido e com possibilidade de viajar muito mais tempo. Isso aconteceu porque Horikoshi compreendeu  intuitivamente o mistério da aerodinâmica, algo que ninguém poderia explicar em palavras”, destacou ele na 51ª edição do Festival de Nova York, onde o filme foi lançado nos EUA.  
 
Miyazaki enfatiza que Horikoshi  não tinha nada a ver com a forma como o Zero passou a ser usado, e não entende por que um engenheiro tem que ser considerado responsável por isso.
 
“Horikoshi  pode ter construído armas destruidoras com alta tecnologia, mas realmente tudo o que ele desejava era fazer aviões requintados. Ele mesmo escreveu mais tarde, que estava sendo acusado de ter sido parcialmente responsável pela guerra, mas não concordava com essa afirmação”, disse o diretor,  que foi aconselhado por familiares e amigos a não fazer o filme.
 
“Claro que isso me abalou um pouco, eles poderiam ter razão, mas posteriormente soube que Horikoshi um dia havia declarado que tudo que queria era fazer algo belo. Então eu tive certeza que iria fazer o filme”, conclui o diretor, ele também um pioneiro na técnica que utiliza em seus filmes.
 
No lugar da aparência sintética, Miyazaki permanece fiel ao desenho em aquarela e usa efeitos 3D apenas  para obter mais volume nas figuras.