Nas Telas - DIRETORA ESPERA QUE "VAZANTE" PROVOQUE REFLEXÕES
     
 

Carlos Augusto Brandão

PUBLICADA EM 09.11.17


“Vazante” é o primeiro longa-metragem solo de Daniela Thomas, depois de  codirigir “Terra Estrangeira”, “O Primeiro Dia” e “Linha de Passe” com Walter Salles e “Insolação” com Felipe Hirtsch.
 
O filme que, agora chega ao circuito nacional,  teve sua première mundial em 10 de fevereiro na prestigiada Panorama nesta 67ª edição do Festival de Berlim, o filme teve sua première mundial, em noite de gala com casa cheia.
 
Ambientado no século 19, “Vazante”  aborda as mazelas sofridas por negros e mulheres às margens do Brasil colonial. A obra revive a época do trabalho escravo na extração de pedras preciosas em Minas Gerais e aborda a questão da feminilidade sob o ponto de vista do abuso.
 
A menina Beatriz (vivida pela estreante Luana Nastas) é dada em casamento a Antonio (vivido pelo ator português Adriano Carvalho). Ela é levada a conviver com os escravos do marido numa fazenda que tem tudo para desencadear uma espiral de violência.
 
O elenco conta também com Sandra Corvelloni, que trabalhou com Thomas em “Linha de Passe” e, pelo papel,  ganhou a Palma de Ouro em Cannes.
 
“É uma honra e um privilégio voltar aos grandes festivais de cinema que me deram tanta felicidade, como o de Cannes, em 2008, quando recebi a Palma de Ouro para Sandra, por sua linda Cleuza de “Linha de Passe”.  Fico muito orgulhosa de ter Sandra mais uma vez brilhando em um filme meu.  Meu coração está acelerado, declarou a diretora em entrevista  ao Mccinema, durante a Berlinale.
 
“Existe uma sinergia entre o Festival de Berlim e o cinema do Brasil.  Talvez seja o festival que mais impacto tenha tido no cinema brasileiro das últimas décadas, premiando “Central do Brasil”, Fernanda Montenegro, “Tropa de Elite” e “Que Horas Ela Volta”, destacou a diretora, que acalentava o projeto de “Vazante” há mais de 15 anos.
 
“No Brasil até pouco tempo se praticou o casamento forçado de meninas muito jovens. A escravidão é outro dos temas que costuram a trama.  O país ainda não encarou isso que praticou.  É algo que me comove”, declara.  
 
O filme teve uma boa resposta da Panorama, que tem a característica de selecionar filmes de cunho social, originais, com qualidade artística e, sempre com um público interessado e participativo.
 
A diretora disse  que o perfil da mostra é praticamente uma descrição do seu desejo em relação a “Vazante”.
 
“Eu adoraria que o filme fosse percebido –  para além das emoções da narrativa –  como um gesto em direção à recuperação da história na formação da nossa identidade, de todos nós brasileiros”, ressalta manifestando seu desejo que “Vazante” provoque reflexões.
 
“Amaria que minha paixão antiga pelo cinema fosse visível nas minhas escolhas”, disse complementando que mal aguenta esperar para descobrir o quão universal é “Vazante”, que já foi mostrado também no Festival de Brasília, onde provocou uma grande  polêmica no debate após a projeção, com acusações de racismo no filme.  
 
Sobre a polêmica, Thomas declarou que é triste ver que as pessoas podem ver o filme apenas tentando chegar à questão do protagonismo negro, ou questões que são paraleas a ele.
 
“Mas meu filme é sobre a questão humana no Breasil há 200 anos. Não está falando sobre racismo, está falando sobre como construímos uma sociedade perversa neste país”, explica.