CINEMA PERDE ALAIN RESNAIS
 

Publicada em 03.03.14
 
Carlos Augusto Brandão
 
Na 64ª edição do Festival de Berlim em fevereiro último, um dos maiores destaques da premiação foi o  prêmio Alfred Bauer (por trabalho inovador e que abre novas perspectivas), ter ido para o filme Aimer, Boire et Chanter, de Alain Resnais, que concorria ao Urso de Ouro.
 
O produtor Jean-Louis Livi subiu ao palco para receber o prêmio no lugar de Resnais, que já bastante doente, não pode ir à Berlinale.  Muito emocionado, declarou.
 
“O teor desse prêmio é a perfeita definição do trabalho de um diretor de 91 anos, que ainda nos presenteia com obras desse tipo”, disse o produtor.   
 
A Federação Internacional da Crítica Internacional (FIPRESCI),  também reconheceu a qualidade do filme e o trabalho de Resnais,  lhe outorgando o prêmio da crítica internacional.
 
O crítico Michel Ciment, Presidente do júri da FIPRESCI,disse que era um prazer premiar uma obra tão fora de série no quadro da Berlinale.
 
“Havia muitos filmes originais, mas não bem realizados, outros tantos bem realizados mas nem um pouco originais. O único a juntar as duas coisas era o filme de Resnais", ressaltou Ciment.
 
O consagrado diretor francês,  infelizmente faleceu no último sábado, em Paris, deixando um legado inestimável para o cinema de seu país e para a cinematografia universal.
 
Resnais nasceu em Vannes, em 03 de junho de 1922 e estreou em longas com o clássico Hiroshima, meu Amor seguido de O Ano Passado em Marienbad, com o qual ganhou o Leão de Ouro no Festival de Veneza. O roteiro mesclava noções de espaço e tempo, realidade e ficção.
 
No seu último  trabalho, Resnais buscou inspiração pela terceira vez (depois de Smoking e No Smoking em 1993 e Medos Privados em Lugares Públicos em 2006) no universo teatral de Alan Ayckbourn e mais especificamente neste, na peça Life of Riley, do dramaturgo britânico.
 
Com o elenco composto por Sabine Azéma, Hippolyte Girardot, Sandrine Kiberlain, André Dussollier, Caroline Silhol e Michel Vuillermoz , a história começa com um grupo de amigos inseparáveis  descobrindo que um deles tem poucos meses de vida. A trágica notícia trará inesperadas repercussões no círculo dos amigos.
 
A reflexão sobre o tempo em seus filmes mais recentes – Aimer, Boire et Chanter e Vocês Ainda não Viram Nada -  trazia a morte como tema.  Sabine Azéma disse, em entrevista na Berlinale, que ele sabia e aceitava que a morte estava próxima.
 
“Ele não separa a morte da vida. Por isso continua fazendo filmes, por esse seu amor à vida”, declarou Sabine, que era casada com o diretor.
 
Assim foi com os problemas existenciais tratados em Providence, com o drama do exílio em A Guerra Acabou, com o enigma do tempo e da memória nos clássicos Ano Passado em Marienbad e Hiroshima, Meu Amor e neste Aimer, Boire et Chanter, que transmite com veracidade como acontecimentos inesperados podem transformar a vida.
 
Outro princípio que o cineasta vinha seguindo com rigor era não  fazer concessões e realizar filmes comerciais. Alguns podem até ser mais populares que outros, como Meu Tio da América ou A Mesma Velha Canção, mas nada que tenha sido planejado pelo cineasta, que em todos eles manteve sua coerente assinatura.
 
Ativo até o final, o diretor francês ainda tinha  planos de levar para as telas a vida do Marquês de Sade e um filme em quadrinhos, uma de suas grandes paixões ao lado do cinema.
 

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