12 Homens e uma Sentença
 

PUBLICADA EM 11.03.2014
 
Myrna Silveira Brandão
 
Está em cartaz no Centro Cultural Banco do Brasil – RJ, a peça 12 Homens e uma Sentença, com direção de Eduardo Tolentino e produção de Ana Paz.  
 
Criado originalmente como série de televisão por Reginald Rose,  o roteiro foi adaptado para o cinema por Sidney Lumet em 1957 e, após o grande, inesperado e contínuo sucesso, voltou aos palcos em 1964, numa adaptação do próprio Rose.  
 
O enredo acompanha um júri composto de doze  homens que devem julgar  um jovem porto-riquenho acusado de ter assassinado seu próprio pai. Para o veredicto final, a votação tem que ser unânime e, se  for considerado culpado, a lei determina para estes casos que o réu seja condenado à morte. 
 
Rapidamente, onze dos jurados votam pela condenação.  Um deles – o arquiteto Davis, interpretado por Henry Fonda – é o único que quer discutir um pouco mais antes de dar a decisão final. Afinal, estavam decidindo se uma pessoa, um jovem, viveria ou morreria.  Enquanto Davis tenta convencer os demais jurados, o filme vai revelando a característica de cada um – o estilo e a história de vida,  as atividades, as motivações e a influência no grupo – mostrando  o que os levou a tentar considerar o garoto como culpado.
 
Quando Davis, com sua habilidade e persuasão,  vai fazendo com que cada jurado reveja o seu voto, passam a emergir no grupo os aspectos individuais. Ao mudar o seu voto, cada um terá evidentemente que rever conceitos e vai querer que sua decisão seja respeitada. Nesse processo, é inevitável que as características da personalidade comecem a aflorar, surgindo então os conflitos, as emoções e a influência no comportamento das pessoas, bem como as variáveis que normalmente permeiam as relações dentro de um grupo altamente diferenciado.
 
A trama prossegue sem se preocupar em mostrar se o réu é culpado ou não, mas sim se uma pessoa poderá ser julgada por seus semelhantes com base apenas em evidências circunstanciais e suposições.  O filme mostra a fragilidade estrutural e a complexidade de um grupo constituído de pessoas comuns, já  prenunciando  um estilo que iria  predominar em quase toda a obra futura de Lumet: os padrões éticos que confere ao comportamento dos seus personagens e a forma de mostrá-los, sempre envoltos na condição humana. 
 
A tensão crescente vem muito mais do conflito entre os personagens e no atrito dos diálogos do que propriamente da ação. Na verdade, a lógica, o preconceito e a emoção dominam o tempo todo o campo da ação, com o núcleo se situando sempre na questão relacionada com a responsabilidade inerente à possível condenação de um jovem à morte e não na preocupação de esclarecer um crime.
 
O filme mostra também  os fatores críticos envolvidos no processo decisório, salientando como as pessoas trazem para o grupo e para a tomada de decisão seus padrões, condicionamentos preconceitos e história de vida; evidencia também as diferenças individuais que levam as pessoas a, na análise de um mesmo fato, visualizar ângulos e verdades diferentes, e analisa a capacidade e características do processo de negociação.
 
Outro ponto de destaque é a ênfase na importância de escutar todas as pessoas envolvidas na decisão, que ajudará inclusive na elaboração de um diagnóstico da situação.
 
O filme é também uma história sobre questões relacionadas com a dúvida e a derrocada das certezas. Dessa forma, possibilita um profícuo debate sobre o princípio da dúvida razoável aplicado à tomada de decisão em gestão de pessoas.
 
Em última análise, além desses, muitos outros temas possibilitam uma transposição para o mundo corporativo,  tais como cultura, comunicação, conflito, diversidade, ética, liderança., diferenças de percepção, persistência, preconceito, mudanças de conceitos, modelos mentais, negociação, padrões cristalizados, sistema de justiça, valores. 
 
 
OUTROS DADOS SOBRE O FILME
 
 
12 Homens e uma Sentença marcou a estreia na direção do então jovem cineasta Sidney Lumet, em 1957. 
 
O excelente roteiro de Reginald Rose e a fotografia de Boris Kaufmann são fundamentais para acentuar o clima asfixiante no grupo de  jurados e também  nos espectadores.
 
Os 12 jurados são interpretados por Henry Fonda, Lee J. Cobb, Ed. Begley, E.G. Marshall,  Jack Warden, Martin Balsam, John Fiedler, Jack Klugman, Ed Binns, Joseph Sweeney,  George Voskovec e Robert Webber.
 
Os 95 minutos do filme são passados praticamente todo o tempo numa pequena sala.   É quase como se tudo ocorresse em tempo real. A tomada em planos diferenciados, fotografia e a falta de ventilação – artifício utilizado pelo diretor – amplificam o clima sufocante e claustrofóbico.  Há uma variação de planos fechados, mostrando a expressão dos atores de vários ângulos, na medida em que cada jurado vai desnudando a sua personalidade.
 
Considerado uma obra de grande valor humanista,  12 Homens e uma Sentença deu a Lumet no Festival de Berlim de 1957, o Urso de Ouro de melhor diretor, e ganhou também o prêmio da crítica internacional (Fipresci) e o  da Organização Católica Internacional para o Cinema   (Ocic).
 
O filme, que está completando 57 anos,  tem sido ao longo dos anos, objeto de workshops, seminários e estudos de caso. Em 1997 foi realizada uma refilmagem, dirigida por William Friedkin,  com duas horas de duração, mas sem o mesmo apelo dramático da versão original. A peça de Reginald Rose, que deu origem à adaptação para as telas, tem tido frequentes retornos aos palcos.
 

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