SOLIDARIEDADE E ESPERANÇA
     
 

Myrna Silveira Brandão

PUBLICADA EM 15.03.15


Dois Dias, Uma Noite, de Jean Pierre e Luc Dardenne – que concorreu à Palma em Cannes e agora chega ao circuito – é mais uma investida dos Dardennes na temática político-social que eles vêm seguindo desde La Promesse, de 1996, sobre trabalho semiescravo de imigrantes ilegais na Bélgica.
 
Rosetta – que lhes deu a primeira Palma em 1999 –  não ficava atrás ao tratar da desumanidade e da indignidade do desemprego, seguida de O Filho, na abordagem de um drama pessoal, tendo como pano de fundo a classe operária dos artesãos. A segunda Palma veio com A Criança, mais um libelo a retratar mazelas sociais daqueles que vivem à margem da sociedade.
 
Nessa mesma linha, o novo filme dos irmãos cineastas segue o dramático périplo de Sandra (Marion Cotillard),  uma humilde operária, numa história que revela a precariedade e os medos da classe trabalhadora belga e, de modo geral, europeia.
 
Durante um fim de semana, Sandra tem a difícil missão de convencer seus colegas  a não apoiar sua demissão que, caso aconteça, renderá a eles um bônus de 1.000 euros.
 
Ela precisa de nove votos para manter o emprego, mas enfrenta não apenas as reações contrárias de alguns companheiros (uma quer o dinheiro para melhorar o jardim, outro precisa pagar a faculdade da filha), mas também uma crise de depressão que a manteve longe do emprego. 
 
O marido  (Fabrízio Gongione) é único apoio de Sandra em seu esforço para salvar o emprego.
 
Na coletiva no Festival de Nova York – onde o filme foi lançado nos EUA – Luc Dardenne revelou  que fazer esse filme era um projeto antigo e que eles já tinham essa história na cabeça há algum tempo.
 
“Sempre tivemos vontade de falar sobre a solidariedade e mostrar que ela ainda é possível hoje em dia. Esse é o cerne do filme e está sendo lançado  no momento certo porque o desemprego ronda a Europa”, lembra o diretor, acrescentando que o importante era mostrar uma pessoa que, mesmo excluída, encontra força e coragem na luta que conduz junto com o marido.
 
“Queríamos também que os espectadores refletissem sobre as ações e o relacionamento entre os personagens num momento como esse”, diz  destacando  que Marion era a atriz que precisavam.
 
“Nós conhecemos Marion nas filmagens de Ferrugem e Osso (2012), que produzimos. Desde que a vimos com o filho nos braços, não paramos de falar sobre ela e decidimos que seria a protagonista do nosso filme”, complementa o diretor, com muitos elogios também para Gongione.
 
“Ele está magnífico no papel do marido que a apoia, é um ator excepcional”, concorda Pierre acrescentando que o filme fala também sobre responsabilidade, amadurecimento, redenção, enfim, coisas que acontecem no cotidiano de nossas vidas. 
 
“Gostamos de contar  histórias simples sobre pessoas simples. Nosso cinema procura mostrar os pequenos dramas que acontecem no lugar onde vivemos e que na verdade são universais”, conclui. 
 

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