CENAS DA VIDA
     
 

Myrna Silveira Brandão

PUBLICADA EM 01.09.16


“A Comunidade”,  de Thomas Vinterberg, é uma obra muito pessoal na carreira do cineasta. 
 
O filme – que chega agora às telas brasileiras –  marca também alguns retornos para o cineasta dinamarquês: às suas memórias de infância, a “Festa de Família” –  filme que, dezessete anos atrás deu origem à sua carreira – e à influência inspiradora de Ingmar Bergman, certamente a referência mais presente em sua obra.
 
O filme revive muitas das experiências do próprio Vinterberg – em uma comuna Nordkrog, ao norte de Copenhague, onde ele morou com os pais entre 1976 e 1985 – e inicialmente foi uma peça, realizada em parceria com   o roteirista Mogens Ruykov, que morreu no ano passado.
 
O roteiro de adaptação para a tela foi escrito por Vinterberg e pelo diretor dinamarquês Tobias Lindholm.
 
O  filme é protagonizado por Ulrich Thomsen e Trine Dyrholm, (que participaram de “Festa de Família” em 1998). A estreante  Martha Sofie Wallstrom Hansen tem uma ótima atuação como Freja, a filha adolescente que testemunha silenciosamente  a  desintegração do casamento dos seus pais.
 
No último Festival de Berlim, onde o filme concorreu ao Urso de Ouro, o diretor conversou com os jornalistas sobre a história, seu envolvimento pessoal e a inspiração em Bergman.  Leia os principais trechos:
 
Qual a origem de The Commune?
 
“Eu cresci numa  comuna e senti que havia uma curiosidade das pessoas sobre essa minha fase.  Quando o diretor teatral Matthias Hartmann me propôs fazer uma peça com o tema, eu aceitei e The Commune foi um grande sucesso.  Após isso, refleti que Festen foi uma peça que veio de um filme, então por que não fazer o oposto? ”.
 
Podemos dizer então que The Commune é o seu filme mais pessoal?
 
“É muito pessoal e eu tive o cuidado de evitar que ele se tornasse um filme particular.  Foi difícil equilibrar e encontrar o caminho, mas eu o mostrei previamente para pessoas próximas a mim e  elas puderam sentir a atmosfera  da época. O filme é baseado em sentimentos reais, não numa história real”
 
Qual foi a técnica para reconstituir o contexto e atmosfera dos anos 1970?
 
“Isso se deve muito ao excelente trabalho de cenografia de Niels (Sejer) e dos figurinos de  Ellen (Lens). Eles fizeram uma extensa pesquisa buscando pequenos detalhes  e criaram sua própria maneira de mostrar a vida real naquela época”.
 
Qual a “participação”  de Bergman no filme e em sua obra?
 
“Bergman está sempre na minha mente.  Ele é parte do meu crescimento e eu tive a sorte de encontrá-lo e de receber conselhos dele.  Muitas cenas são diretamente influenciadas por ele”.
 
Como descreveria o cerne de The Commune?
 
“Para mim, é um filme sobre a perda da inocência e o fim do amor, alguma coisa que, algumas vezes, é inevitável com a passagem do tempo. Há o fim do amor, o fim da infância, e o filme captura a dor e o que vem com isso.  Havia um tempo dourado e maravilhosamente ingênuo, mas isso acabou levando consigo a inocência que fazia parte dele”.
 

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