A POÉTICA BANALIDADE DO COTIDIANO
     
 

Myrna Silveira Brandão

PUBLICADA EM 16.05.17


Jim Jarmusch foi um sucesso na edição do Festival de Nova York / 2013,  com “Amantes Eternos”,  uma história de vampiros contada de maneira inovadora, fugindo do clichê macabro e aterrorizante.
 
Não apenas por isso, mas também  por outros sucessos anteriores – como “Estranhos no Paraíso” (1984), “Daunbailó” (1986) e “Flores Partidas” (2005) – “Paterson”,  novo trabalho de um dos cultuados gurus do cinema independente, era aguardado  com  expectativa na edição 2016 do festival. 
 
Vindo de Cannes, onde concorreu à Palma de Ouro, o filme de Jarmusch – que agora chega ao circuito nacional – segue o personagem-título, um motorista de ônibus de Nova Jersey, também chamado Paterson, que escreve poesia nas horas vagas. 
 
A história é contada em estrofes, uma para cada um dos dias de uma semana inteira da vida do protagonista vivido, num ótimo desempenho por Adam Driver (o Kylo Ren de Star Wars – O Despertar da Força).
 
Paterson segue sua rotina: acorda sempre na mesma hora, faz o mesmo caminho até o trabalho e, dirigindo seu ônibus, percorre as mesmas ruas e as mesmas paradas.  Como um adolescente, escreve seus poemas em um caderno de anotações secreto. Poderia ter uma vida banal, se não fossem as poesias.  Elas são suas armas contra a banalização.
 
Seguindo o estilo muito pessoal de Jarmusch, a linguagem é minimalista e a narrativa mantém o refinado humor do diretor.
 
As estrofes ilustram a rotina de Paterson, que se reduz ao trabalho, às conversas com a namorada (Golshifteh Farahani), ao passeio com o cachorro dela e a uma parada no bar preferido do bairro.
 
Um inteligente roteiro mostra situações que parecem se repetir ao longo da semana, mas gradativamente cada uma delas acrescenta uma informação nova sobre a natureza dos personagens.
 
Os poemas mostrados em “Paterson” são de Ron Padgett – um dos poetas contemporâneos favoritos do diretor – que não só concordou em escrevê-los para o filme, mas também deixou que a equipe usasse alguns dos seus trabalhos pré-existentes na história.
 
Jarmusch resume a história do seu novo filme numa frase:  
 
“É uma celebração dos pequenos detalhes da vida”, disse explicando sua motivação para realizá-lo.
 
“Queria fazer uma espécie de antídoto aos grandes filmes de ação, povoados por super-heróis e dramalhões”, afirma revelando que muitos diretores influenciaram e influenciam o seu cinema.  
 
“Mas um dos meus preferidos é  Jean Eustache. La Mamain et la Putain (“A Mãe e a Puta”, 1973) é o meu filme de cabeceira. Na mesa onde escrevo meus roteiros, tenho a foto de Jean, ele é um exemplo de pessoa na qual gosto de acreditar que estou me inspirando”, destaca.  

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