INSPIRAÇÃO PARA QUEBRAR PARADIGMAS
     
 

Myrna Silveira Brandão

Publicado em 28.09.2020



O título acima traduz o maior desejo do diretor Gil Baroni para seu filme: que ele inspire pessoas para quebrar  paradigmas.
“Alice Júnior  – que chega agora ao circuito em streaming,  estreou na mostra Geração da 70ª edição do Festival de Berlim –  segue uma youtuber trans (Anne Celestino Mota) cercada de liberdades e mimos. Depois de mudar com o pai para uma pequena cidade onde a escola parece ter parado no tempo, a jovem precisa sobreviver ao ensino médio e vencer preconceitos.
O filme foi bem recebido pelo público adolescente da mostra – cujo júri era também formado por jovens nessa faixa etária.
 
Em conversa conozco na Berlinale, Baroni  – cujo foco tem sido  Produções que interagem com o universo LGBT e a resistência das minorías – falou sobre o filme, o significado da seleção para Berlim e os resultados que espera com o filme.
 
O que representa para você e para “Alice Júnior” a seleção em Berlim?
 
“Recebemos a noticia com muito carinho e ficamos felizes. Vibramos que a estreia internacional aconteça  em Berlim.  Nesse momento em que as políticas públicas estão acabando com os editais de fomento ou criando empecilhos, principalmente os de conteúdo LGBTQI+, estrear na Berlinale Generation é uma grande conquista para o cinema nacional, especialmente para a comunidade trans que vai ser representada pela Anne Celestino Mota, atriz que protagoniza o filme.  Não é só um ato de resistência, mas um ato de existência”.
 
Qual a principal  motivação para fazer o filme?
 
“Quando o roteirista Luiz Bertazzo me apresentou o argumento e uma primeira versão do roteiro do filme, foi paixão imediata com a história de Alice Júnior.  Eu gosto de personagens contestadores e que se revoltam contra qualquer tipo de opressão. Fico em êxtase quando esses personagens usam seus corpos como instrumentos de resistência e transformação, quebrando paradigmas. Alice é uma força que contesta os espaços e as regras que insistem em limitar sua presença e sua liberdade”.
 
Esse foi o cerne do filme?
 
“Os personagens e seus corpos: essa é a ideia governante do filme: apesar da sociedade impor padrões aos corpos, sempre haverá aqueles que terão resiliência, serão resistentes, inconformados ou reticentes.  Em nosso filme temos dois tipos de personagens: os que estão oprimindo e os que estão lutando e resistindo contra os opressores”.
 
 
“Alice Junior” aborda um tema oportuno, que tem tudo a ver.  Você esperava a ótima reação que o público deu ao filme?
 
“Alice Júnior é motivo de grande alegria para toda equipe do filme, especialmente para a atriz Anne Celestino Mota.  Anne, atriz trans que interpreta a personagem Alice, nos ensinou muito sobre a resistência dos corpos numa sociedade que impõe padrões e rejeita a diversidade das existências humanas.
Gostaríamos que a história de Alice Júnior tocasse os corações do mundo e sensibilizasse as pessoas que ainda não compreenderam a beleza da diversidade de cada ser humano.  Desejamos que o filme seja um estímulo para as pessoas que estão descobrindo a relevância de seus corpos tal como são (e não como querem que sejam: corpos dóceis).  E queremos que o filme seja inspiração para os que continuam resistindo e quebrando paradigmas tóxicos à humanidade. É isso que esperávamos – e aconteceu –  do público da Berlinale: respeito, apoio, compreensão e inspiração sobre os temas abordados no filme!”

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