COMO CONVIVER COM O INESPERADO
     
 

Myrna Silveira Brandão

Publicado em 28.07.22


O aguardado  filme "Ela e eu", de Gustavo Rosa estreou no circuito nacional. 

A história  segue Bia (Andréa Beltrão) que entra em coma ao dar a luz à sua filha e desperta 20 anos depois. O fato provoca uma mudança radical  na vida dela e na de toda a família. Sua filha, Carol (Lara Tremouroux), já é adulta, e seu ex-marido, Carlos (Eduardo Moscovis) está casado com Renata (Mariana Lima). Todos terão que  reaprender a conviver.  
 
“Ela e eu” é um filme sobre adaptação diante de eventos inesperados e raros. Através da personagem, são abordados vários temas como as relações afetivas e a necessidade de, muitas vezes diante de dificuldades estremas, precisarmos  nos reinventar ao longo da vida.
 
O lançamento  ocorreu em 2021 no 54º Festival de Brasília, onde recebeu três prêmios: melhor atriz (Andrea Beltrão), melhor ator (Eduardo Moscovis) e melhor roteiro (Gustavo Rosa de Moura, Andrea Beltrão e Leonardo Levis). Participou ainda do Festival do Rio (fora de competição) e do Festival de Vassouras, onde ganhou 5 prêmios: melhor filme, ator (Eduardo Moscovis), atriz coadjuvante (Mariana Lima),  roteiro e som.
 
O diretor nasceu em São Paulo em 1975. Em 1999, formou-se arquiteto pela FAU-USP. Em 2003, morando no Rio de Janeiro, começou a trabalhar com audiovisual, dirigindo vídeos para Museus, filmes experimentais e o longa-metragem de ficção “Canção da Volta”.
 
O diretor contou que a ideia do filme surgiu em 2015 num brainstorm que eles costumavam fazer na produtora Mira Filmes.
“A Carmen Maia, uma das produtoras do filme e minha sócia na época, falou da vontade de fazer um filme com uma protagonista de 50 anos e da relação dela com a filha.  E aí tivemos essa ideia meio maluca, quase surreal, de uma pessoa entrar em coma durante o parto, passar boa parte da vida fora do mundo, nesse stand by, e depois voltar e encontrar uma filha que não viu crescer. A princípio era para ser uma comédia popular. Mas, com o passar do tempo, a gente mudou, o Brasil mudou e achamos que não cabia mais uma comédia. Além disso, fomos nos encantando pelas possibilidades dramáticas que esse argumento trazia, pelas relações afetivas e amorosas que poderiam brotar da história”, disse o cineasta complementando que  Andrea Beltrão foi fundamental para o filme.  Ela nos ajudou muito a achar os caminhos. Foram anos de trabalho, em graus diferentes de intensidade, e o filme se tornou um drama com toques de humor. 
Discorrendo sobre os diversos temas que o filme trata, além do ponto central, Rosa disse que a história fala também sobre a importância de cuidarmos uns dos outros.
“Nesses tempos de cada um por si, de intolerância, de arma pra todo lado, de violência em todo canto, esse assunto me parece muito relevante.  Mas também é uma história pra gente pensar sobre a nossa ilusão de controle, já que eventos muito maiores e muito fortes podem acontecer a qualquer momento e tirar nossas certezas do lugar.  É um filme pra gente pensar no que realmente importa na nossa vida. É um filme que, de maneira inesperada, dialoga muito com o que estamos vivendo hoje.  Acabamos de ser surpreendidos por uma pandemia e tivemos de nos adaptar, mudar a maneira de enxergar uma série de coisas, rever valores, conceitos, preconceitos.  O filme lida com readaptação, com imprevisibilidade, com crise, com descoberta e  com amor”, explicou o diretor, cuja obra tem sempre uma grande identificação com os espectadores.
 
Quando estou  fazendo o roteiro, filmando ou editando, sempre tento me colocar no lugar dos espectadores. Mas isso é bem complexo porque o nosso envolvimento com aquilo tudo é totalmente diferente e porque não existe um espectador, existem tantos espectadores quanto existem indivíduos. Além disso, fazer um filme envolve muita gente, por muito tempo, e manter essa equipe toda em sintonia também é muito complexo. Daí, no final, a gente faz o melhor que pode e torce para os espectadores  se conectarem com o filme”, concluiu.

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