MORETTI RETORNA COM COMÉDIA DRAMÁTICA
 

PUBLICADA EM 02.02.14 

HABEMUS PAPA PROVOCA REFLEXÕES
 
Carlos Augusto Brandão
  
O novo filme de Nanni Moretti, concorreu à Palma em Cannes, onde em  2001 o dolorido O Quarto do Filho lhe deu o prêmio de diretor naquele ano.
 
Depois de passar por vários outros festivais, inclusive o NYFF, Habemus Papa  chega aqui em DVD e nos canais de assinatura.
 
Neste novo filme de Moretti, o veterano Michel Piccoli interpreta um Papa cheio de dúvidas e angústias. A tela abre com a morte de João Paulo II e o conclave dos cardeais para eleger o novo pontífice. Após dois ou três escrutínios que vão eliminando os favoritos, o personagem de Piccoli é eleito Papa e, seguindo o ritual, para fazer-se conhecer ao mundo, deve aparecer no terraço do Vaticano para falar aos fiéis. Mas ao ver a multidão, tem uma crise nervosa e diz que não conseguirá assumir o posto.
 
Os dirigentes do Vaticano entram em pânico e convocam um psicanalista para socorrê-lo, papel interpretado pelo próprio Moretti.
 
Enquanto a multidão em suspense faz vigília na Praça de São Pedro, o Papa eleito consegue fugir do Vaticano, perambula por Roma e invade uma sessão de teatro que está fazendo uma representação de Chekhov. O psicanalista, por sua vez, é proibido de sair do Vaticano para evitar escândalos.
 
Piccoli está muito bem no papel,  bem como o ator Jerzy Stuhr, que faz o assessor de imprensa, encarregado de zelar pela imagem do Vaticano.
  
O diretor, que em Il Caimano – uma ficção no estilo do cinema político italiano da década de 70 – provocou uma reflexão sobre a indústria cinematográfica e os problemas políticos da Itália contemporânea, faz neste filme uma abordagem diferente, mas também  ligada à cultura italiana.
 
O diretor diz que, ao contrário de expectativas que ele denunciasse coisas do Vaticano como pedofilia ou a crise de autoridade moral da igreja – fatos já bastante conhecidos – ele quis criar seu próprio Papa e seus cardeais.
 
Na verdade, conhecido por ser militante de esquerda, Moretti faz uma indagação política e existencial num  trabalho que exige reflexão. O filme tem uma simetria entre o Papa, que vai conhecer a vida nas ruas, e o psicanalista que fica aprisionado na teia da Catedral de São Pedro.
 
Apesar do tom satírico com que descreve os bastidores do Vaticano e a relação com seus fieis, Moretti não quis confirmar uma possível crítica à instituição ou uma denúncia às questionáveis tentativas da Igreja de influenciar nas decisões políticas da Itália.
 
Embora tenha estreado na Itália com sucesso de bilheteria, o filme não deixa de provocar polêmica ao apresentar Piccoli no papel de um papa que surta no momento de receber o poder eclesiástico.
 
Em última análise, Moretti, conhecido por sua verve irônica, bastante explícita em Il Caimano, por exemplo, traz um olhar sobre a necessidade de peregrinação de um líder que resolve perambular entre o povo.
 

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